Curta nossa página


Emojis

A arte de responder mensagens sem ler no mundo digital

Publicado

Autor/Imagem:
João Zisman - Foto Editoria e Artes/IA

Vivemos em tempos de hiperconectividade, onde cada notificação de mensagem carrega a urgência de uma missão secreta, mesmo que, na prática, seja só mais um “Bom dia!” no grupo da família ou uma cobrança sutil daquele amigo que insiste em marcar algo que nunca acontece. A verdade é que, diante dessa avalanche digital, desenvolvemos uma habilidade digna de aplausos: responder mensagens sem ler. E convenhamos, não é pouca coisa.

Não é questão de preguiça, mas de sobrevivência. Aprendemos, ao longo dos anos, que a maioria das mensagens segue um roteiro previsível. “Oi, tudo bem?” merece um “Tudo e você?” protocolar. “Vamos marcar?” pede um otimista “Claro, só combinar!” – mesmo que saibamos que ninguém vai combinar nada. A arte está em equilibrar gentileza e desinteresse em doses cuidadosamente calculadas.

E é nesse universo de respostas automáticas que surgem os clássicos. O campeão absoluto é o “Show!” – curto, direto e versátil. Serve para quando alguém conta uma novidade que você não entendeu direito, para aprovar uma ideia que você não quer discutir e até para demonstrar entusiasmo onde ele não existe. No mesmo hall de soluções rápidas estão os emojis salvadores: o joinha 👍 para garantir que a conversa não continue, o aplauso 👏 para encerrar qualquer discussão sem parecer rude, e o sorriso 😊 que diz tudo e, ao mesmo tempo, nada.

Mas há momentos em que essa prática nos coloca em apuros, e as gafes se tornam inevitáveis. Quem nunca mandou um “Força aí!” para alguém que, na verdade, estava comemorando uma promoção? Ou respondeu “Haha, que engraçado!” sem perceber que a mensagem tratava de algo sério? O terror moderno é descobrir, tarde demais, que aquele “Vamos marcar!” foi interpretado como um compromisso real e agora exige malabarismos para desmarcar sem parecer descortês. E há ainda a clássica resposta errada no grupo errado – como desejar bom dia à equipe de trabalho com o apelido carinhoso que era para a namorada.

No ambiente de trabalho, então, essa prática vira quase uma estratégia de autopreservação. Quando o chefe manda uma mensagem às 22h, o instinto manda disparar um “De acordo!” sem hesitar. Só que, em alguns casos, esse “de acordo” pode significar uma tarefa para o dia seguinte que você só vai lembrar quando for tarde demais.

A tecnologia, claro, nos dá uma mãozinha nessa arte. O recurso de “visualização desativada” no WhatsApp é um verdadeiro escudo social. Ele permite ignorar mensagens sem culpa e ainda garantir aquele tempinho extra para pensar em uma desculpa decente. Os e-mails, por outro lado, têm o famigerado “Lido mentalmente, responderei depois”, que, na prática, significa nunca.

Curiosamente, esse hábito diz muito sobre a forma como nos relacionamos hoje. Estamos todos tão preocupados em parecer disponíveis que respondemos sem pensar, e, do outro lado, a pessoa também manda mensagens sem esperar grandes respostas. É um ciclo infinito de comunicação vazia, onde o que importa não é o que se diz, mas a sensação de que estamos todos juntos – mesmo que só de fachada.

No fim das contas, responder mensagens sem ler é quase uma metáfora da vida moderna: rápida, superficial e com grandes chances de acabar em mal-entendido. Mas e você, leu até aqui ou só rolou a tela e mandou um “Show!” de praxe?

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.