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Homofobia de Trump quer fim da era gay e manter os gêneros masculino e feminino

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto de Arquivo

O dia seguinte à segunda posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos transformou em realidade o que os mais liberais tinham de expectativa em relação aos extremistas de direita. Cada um mostra as garras que têm. O problema dos radicais do conservadorismo é a excessiva preocupação com o que é dos outros. Entre as urgências de Trump, o anúncio de reconhecimento apenas dos gêneros masculino e feminino é a prova de que boa parte dos conservadores tem pavor de ser denunciada. Eles rebolam ao som do Village People, morrem, mas não assumem. Não parece ser o caso do presidente republicano, mas quem desdenha quer comprar.

Essa preocupação partir dos EUA é a incoerência das incoerências, algo com desejo oculto. Trump ou qualquer outro signatário do excludente ato não pode esquecer que a maior economia do mundo também é uma exportadora de transgêneros, não-binários e de conceitos diversos de liberdade sexual. Conforme pesquisa recente, além das centenas de milhares de norte-americanos não binários e intersexuais, há atualmente nos Estados Unidos mais de 1,6 milhão de pessoas transgêneras. Os radicais fingem esquecer que o sexo biológico nada tem a ver com o uso correto das genitálias. Portanto, a forma como cada um se utiliza de suas ferramentas sexuais não interessa a Trump e nem a ninguém.

Ou seja, nem todo binário simples pode atestar em cartório sua masculinidade ou sua feminilidade sem incluir no pé do documento aquela dúvida atroz de pé de ouvido. Sou ou não sou? Em pleno século 21, a decisão de não permitir a identificação de homens e mulheres como gays, lésbicas e simpatizantes vai de encontro à globalização, à modernidade e, principalmente, aos direitos individuais. Demagogo, absurdo, preconceituoso, intolerante e discriminatório, o veredito de Trump acerca da vida alheia foi definido para reduzir a vulnerabilidade e aumentar a autoestima daqueles que não conseguem tirar o bode da sala.

O cheiro pode incomodar, mas o pior é a dúvida que os perseguirá até que sigam para o mundo dos pés juntos. Nos EUA, no Brasil e em todos os cantos do mundo, a todo ser humano é permitido ser o que bem quiser, inclusive homofóbico como Donald Trump e seus discípulos espalhados pelo planeta. Paralelamente às implicações relativas às políticas de proteção, de saúde e de serviços específicos, as barreiras que o público amaldiçoado pela idiotice do conservadorismo terá de enfrentar serão muitas.

Entretanto, na mesma proporção, é claro que haverá protestos e litígios de entidades de defesa dos direitos do povo LGBTQIAP+ contra a ordem executiva. Adormecidos pelo conjunto de medidas progressistas que haviam alcançado em governos anteriores, as comunidades e os movimentos ligados à luta pela completa igualdade trans na América certamente se insurgirão para derrubar, minimizar ou pelo menos satanizar a retórica conservadora do novo presidente dos Estados Unidos.

Donald Trump pode ter ressurgido para o mundo com mais cavalos do que seu primeiro mandato. Pouco importa que o galope do mandatário seja 2.0 e que os gritos contra as liberdades ultrapassem os decibéis permitidos. Um rei com súditos divididos, Trump sabe que, da mesma maneira que faz ameaças e discursos vazios, jogar para a plateia não serve como antídoto para o que está posto. O veneno, às vezes, tem efeito contrário. Quer queiram ou não, ele e seus seguidores terão de engolir os gays, as lésbicas e os simpatizantes, os quais, conforme ocorreu no Brasil, certamente repensarão seus votos. Trump dará ibope por alguns meses. Todavia, os efeitos da intimidação e do constrangimento tendem a ser duradouros. Alguns ultrapassam a eternidade. A briga será boa. Quem viver, verá.

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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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