Ceilândia
Santana volta à cena contra o facínora da peixeira
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emSe havia um local onde o Santana odiava ficar era na delegacia. Pior mesmo só se precisasse ir para a rua combater o crime. No entanto, como poderia correr o risco de perder o emprego, não teve escolha e se juntou à equipe que foi atender a um chamado da população, que disse que um homem, munido de peixeira, estaria assaltando os transeuntes na Ceilândia.
Ricky Ricardo, Pedrito, Ana Luísa, o novato Felipe e o Santana entraram na viatura e rumaram para o local. Pedrito, que estava ao volante, acelerou, pois o facínora poderia escapar. Pra quê? O Santana, que estava prendendo os gases intestinais, os soltou aos montes, o que obrigou a Ana Luísa a tomar uma atitude radical: abriu o vidro e meteu a cara para fora a fim de buscar ar menos poluído.
— Pô, Santana, segura a onda aí!
— Ricky, a culpa não foi minha. Foi do Pedrito, que parece que quer tirar o pai da forca.
— O tempo urge, Santana!
— Quem ruge é leão, Pedrito!
— Eu disse urge, Santana. Urge!
Graças à habilidade do Pedrito, os policiais conseguiram chegar a tempo de avistar o facínora. Este, assim que notou o grupo vindo em sua direção, tratou de dar o pinote. Ricky Ricardo orientou Felipe e Ana Luísa a entrarem na rua paralela, pois o gatuno poderia fugir para lá. Enquanto isso, ele e Pedrito correram atrás do bandido, que, desesperado, pulou o muro de uma das casas.
— Ele entrou ali, Ricky!
— Eu vi, Pedrito! Vamos lá, antes que ele escape.
Para sorte dos policiais, o ladrão foi logo avistado atrás da casinha do cachorro, que não parava de latir.
— Parado aí! – ordenou Ricky.
O homem, diante dos policiais, percebeu que não havia escapatória. Tratou de largar a peixeira e ergueu as mãos. Tudo parecia resolvido, quando surgiu a dona da residência, uma velha de seus quase 80 anos, que foi ver o motivo dos latidos do cachorro.
— Ei, o que vocês estão fazendo no meu quintal?
— Senhora, bom dia! Somos policiais e viemos prender esse homem, que invadiu a sua residência.
Tudo parecia resolvido quando, então, surgiu o Santana, cujo preparo físico o havia abandonado há pelo menos duas décadas. Pistola na mão, sem qualquer motivo, efetuou dois disparos para o alto. Ricky Ricardo e Pedrito e até o cachorro olharam abismados para o policial. Foi o tempo do bandido pegar a peixeira e fugir para local incerto.
Como desgraça pouca é bobagem, eis que o Pedrito cutucou o braço do colega ao lado. A idosa, assustada com os tiros, havia caído durinha. Infarto fulminante do miocárdio.
— Ricky, parece que a senhora teve um treco.
O experiente policial, diante daquela confusão, precisou inventar uma história para, mais uma vez, salvar a pele do Santana. A tal história cobertura foi que estavam no encalço de um meliante nas proximidades, quando se depararam com uma pobre mulher caída no quintal da própria casa. Os impávidos policiais, então, preferiram deixar o suspeito fugir e foram tentar socorrê-la. Mas eis que, diante do destino de todos nós, nada puderam fazer a não ser acionar o rabecão. No final das contas, até receberam elogio formal do delegado.
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Eduardo Martínez é autor do livro 157 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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