Curta nossa página


Puro êxtase

Picanha cara e inflação deixam Lula engasgado, mas ainda vivo para 2026

Publicado

Autor/Imagem:
Armando Cardoso* - Foto de Arquivo/ABr - Marcelo Camargo

Enquanto busca terra firme para pisar, o povo brasileiro nada conforme a maré. Ora à direita, ora à esquerda, milhões de nativos batem tambor, gritam louvores e pedem a Deus por dias melhores. E pouco importa de onde esses dias virão. Acostumados à fixação no governo federal, boa parte da sociedade esquece que o Congresso Nacional é formado por maioria de seguidores do lema do quanto pior melhor. Não posso afirmar que essa maioria sabota o presidente da República. No entanto, não há dúvida de que, hoje, a infelicidade social, econômica e política da população é o primeiro item da missão dos que, voluntária ou involuntariamente, tentam empurrar o Brasil para um beco sem saída.

Ainda estamos longe de 2026. Até lá, nem toda carta fora do baralho deve ser desprezada. Da mesma forma, não se deve duvidar do poderio político daquele que acumula mandatos presidenciais. É um erro focar no achismo de nossas teorias e não nas ações verdadeiras de outros em relação a elas. Quem vive de achismo acaba caindo no próprio abismo. A exemplo do sertão, a política não acolhe bem os que esperam chegar ao fundo do poço para tentar sair dele. Também não é salutar para político algum invocar o nome de Deus somente para ganhar votos. Deus não tem filiação partidária e não divide seu povo.

Inquestionável nesse início de 2025 é o fato de que, nunca antes na história de seus três governos, o momento foi tão ruim para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Todavia, ao contrário do que imaginam os adversários transformados em inimigos, a Inês ainda não está morta. Apesar das dúvidas em relação à saúde do mandatário, sua capacidade de recuperação eleitoral esbanja obviedade. Sei que é cedo para só se pensar em 2026. Por outro lado, já passou do tempo de definição para quem tem certeza de que não estará lá. Muito se tem falado sobre balas de prata para um e para outro.

O problema é que as balas de prata não nascem em árvores do Cerrado. Elas também não tiram governos ou ex-governantes da lama e da forca. Imaginar que apenas um tiro pode devolver a bonança econômica do país é o mesmo que apostar na existência de duendes e de bruxas. No lado oposto, achar que uma bala de prata surgirá para salvar um líder sem mandato do cadafalso é não acreditar na força e no poder dos julgadores. Mais do que isso, é desacreditar na existência de Deus. Resumindo, o tempo é sempre curto demais para quem precisa dele. Jair Bolsonaro sonha acordado com a possibilidade de, após uma noite mal dormida, Alexandre de Moraes reverter a incômoda inelegibilidade. Puro êxtase.

Enquanto isso, mesmo sem o apelo e as proteínas eleitorais da picanha e acossado pelo fantasma da inflação, Luiz Inácio vai remando com seu barquinho sob águas turvas em um mar infestado de tubarões. Só o tempo dirá onde um e outro irão chegar. Ao mesmo tempo, o centro e a centro-direita continuam aguardando o fim dos temporais causados pela polarização do debate político. A ocasião dirá se a estratégia está certa ou errada. Reitero que o mais preocupante é o silêncio do centro e da centro-direita. Embora tenham nadado de braçada nas eleições municipais do ano passado, esses dois segmentos políticos carecem de nomes em condições de, isoladamente, alcançarem um porto seguro. Talvez seja esse o motivo. Talvez estejam esperando boas ofertas de um lado e de outro.

Mesmo sem Bolsonaro, os conservadores têm chances em 2026. É claro que depende do postulante e do cenário ao longo do ano. Por enquanto, o que se pode dizer é que o tempo urge. Ou seja, ou achem logo um candidato forte e capaz de aglutinar as vaidades da direita ou os opositores do atual governo chegarão a 2026 correndo o risco de novamente segurar a brocha na mão. Ainda que não possamos duvidar do poder de quem conhece os atalhos da política, não existem balas de prata contra os fatos. Não há mais a certeza de que radicalismos, antipetismo e pautas conservadoras e ideológicas garantem protagonismos isolados. O que realmente dará votos para esse ou aquele candidato é a intransigente defesa da democracia. Ninguém aguenta mais ameaças como as de 8 de janeiro de 2023, tampouco rompantes obsessivos e personalistas como os de Donald Trump.

………………..

Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

 

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.