Bumerangue em 2026
Mesmice da esquerda pode devolver poder à direita
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emNo Brasil, nos Estados Unidos e em qualquer parte do planeta o retrato mais fiel de um povo é o político que esse povo elege. Como diz o pensador, a política é uma grande farsa, pois, aliado à monotonia do eleitor, é a partir dela que, à direita ou à esquerda, os demagogos manipulam as massas. Seja no Oiapoque, no Chuí ou até em Washington, a regra da política é o medo, a loucura, o marasmo de quem escolhe, a insensatez e a manipulação. A exemplo de todos os segmentos da vida, o segredo da mudança política é não focar energia na luta contra o passado. Aqueles que olham apenas para o passado e brincam com o presente poderão ser esquecidos no futuro.
Por isso, a nova palavra de ordem deve ser trabalhar por mudanças de nomes, de conceitos e, sobretudo, de hábitos. Ando cansado da política e dos políticos. Não falo em desistir, mas tenho tentado me manter longe da mesmice, da invariabilidade e da imóvel normalidade. Voltando às teses filosóficas, mesmice é a mãe do desgosto. Pensemos na variedade como cura. Mais previsível e repetitiva do que o discurso de fanáticos, a política mundial é feita e refeita de obviedades. Dificilmente a soma de dois mais dois são cinco. Quando dá três ou seis, alguma coisa fugiu do controle de fulano ou de ciclano, normalmente os passageiros do mesmo trem, embora ajustada e temporariamente em vagões diferentes.
De vez em quando, sempre de vez em quando, mudam a ordem do vagão ou das poltronas. Como num ciclo menstrual, eles, tendo sabedoria e idade, sabem exatamente o dia e a hora que levantarão da cadeira e a hora e o dia em que voltarão. Beltrano raramente tem espaço na roda viva eleitoral. Nos EUA do homofóbico, preconceituoso e raivoso Donald Trump, a roleta russa foi interrompida exclusivamente por falta de apetência e competência do democrata Joe Biden. E assim será. Ou seja, mesmo em início de mandato, o republicano é potencial candidato à reeleição em 2028. Desde que faça menos cacas do que vem fazendo, é claro. Caso ele prefira dividir o mundo com outros poderosos, tudo indica que os democratas terão de esperar até 2032 ou 2036.
Até agora indesejável para muita gente, Trump será o senhor da razão. Ou seja, tudo realmente dependerá do comportamento do republicano e, principalmente, da movimentação de Kamala Harris, de seus simpatizantes ou de similares partidários. No Brasil, a mesmice se repete. Depois do fracasso do governo e da honestidade do conservadorismo e, após a aparente recuperação do domínio político, a esquerda está se desmilinguindo. A médio prazo, ou ela se recupera ou novamente cederá a cadeira palaciana e a maioria dos assentos do Congresso Nacional à direita. Isso deverá ocorrer por conta da prostração, apatia, inércia e letargia do governo que foi eleito sob o guarda-chuva da renovação e da reconstrução. O Brasil e os brasileiros torcem por isso. Afinal, pelo menos por aqui, Trump nunca mais.
Não devemos esquecer que, apoiado por correntes até então intangíveis, o atual chefe do Executivo – galinha dos ovos de ouro de todos os partidos – preservou a democracia como o bem maior de qualquer sociedade. Embora digam o contrário, ficou nisso. Mas ainda é muito pouco. A maioria das promessas não saiu do papel ou do bolso de quem as prometeu. Por razões que a própria razão desconhece, posso até não concordar que, em 2026, a direita será pule de dez. Entretanto, basta memorizar a eleição municipal do ano passado para começar a duvidar de minha discordância. Ademais, diante da probabilidade do improvável, me parece impossível que os chamados progressistas consigam inventar um nome capaz de refazer a cabeça do povo. Depois da cantoria quase apagada do Lá, Lá, Lá, quem virá? Igual a ele, acho que ninguém.
Em 2026, corremos o risco de conviver com um mágico paulista, goiano, mineiro ou paranaense. Fora disso, não há expectativa que nos faça crer em realidade diferente. Se vierem, que venham em paz e que fiquem longe do radicalismo patriótico e dos devaneios inalcançáveis. Enquanto aguardo, torço por dias melhores e por um governante que não pense como o dono do país. Não tenho amarras à direita, muito menos alforje da esquerda. Sonho com o dia em que nenhum brasileiro tentará saquear a carga de abelhas africanas de um caminhão tombado. Também sonho com um mandatário que não abuse de seus poderes e que respeite o eleitor desejoso de construir o presente e demarcar o futuro. Sonho com um monte de coisas boas. A melhor delas é a certeza de um dia substituirmos a pergunta do que o país pode fazer por nós pela indagação do que podemos fazer pelo país. Quem sabe esteja aí o fim de nossa mesmice política.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978