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A Filosofia Alquímica (Parte 3)

Nem tudo que reluz é ouro, mas com certeza limpa a alma e renova as energias

Publicado

Autor/Imagem:
Marco Mammoli - Texto e imagem

O termo Opus Magnum (ou Magnum Opus) significa “Grande Obra” em latim e é frequentemente usado para se referir à obra-prima de um autor, filósofo ou artista. Na tradição alquímica, o Opus Magnum (ou Magnum Opus) se refere ao processo de transmutação espiritual e material, especialmente a criação da Pedra Filosofal. Existem livros sobre alquimia e filosofia hermética que usam esse título ou variações dele. Existem várias obras clássicas da alquimia que são consideradas Opus Magnum, como:

“O Esplendor Solis” (Splendor Solis) – Salomon Trismosin (Século XVI), é um dos manuscritos ilustrados mais belos sobre a Grande Obra, repleto de simbolismo alquímico. A obra contém uma série de 22 iluminuras ricamente detalhadas que descrevem, de maneira simbólica, o processo da Grande Obra Alquímica, ou Magnum Opus, ou seja, a busca da Pedra Filosofal. Pouco se sabe sobre Trismosin, mas ele é apresentado como o mestre de Paracelso, um dos alquimistas mais influentes da história.

No entanto, alguns estudiosos questionam sua existência e sugerem que ele pode ser um pseudônimo ou uma figura lendária. O manuscrito combina texto filosófico e alegórico com imagens enigmáticas que representam os estágios da transmutação alquímica. Ele segue os princípios da alquimia medieval, detalhando os processos da putrefação, purificação e transmutação dos metais e do espírito. As 22 iluminuras são extremamente detalhadas e cheias de simbolismo hermético, astrológico e cristão.

Alguns dos temas mais recorrentes incluem:

• O Sol e a Lua – Representam a dualidade entre enxofre e mercúrio, masculino e feminino.

• A Coroa – Simboliza o domínio sobre a matéria e a espiritualidade.

• O Rei e a Rainha – Figura clássica da união dos opostos na alquimia.

• A Putrefação (Nigredo) – Representada por corpos dissolvendo-se em um vaso alquímico.

• A Fênix – Símbolo da ressurreição e transmutação final.

Há séculos é considerado um dos livros mais belos da alquimia ocidental, que inspirou obras posteriores sobre alquimia e esoterismo. Há versões do manuscrito preservadas em bibliotecas europeias, incluindo a Biblioteca Britânica. Algumas versões digitalizadas podem ser encontradas em arquivos históricos online, especialmente em bibliotecas especializadas em alquimia e ocultismo. O Esplendor Solis não é apenas um tratado alquímico, mas uma obra-prima do simbolismo ocultista. Seus textos e imagens revelam ensinamentos secretos sobre a transformação da matéria e do espírito, sendo uma das fontes mais enigmáticas da alquimia.

Outra obra importante é a “Aurora Consurgens” (A Alvorada Nascente), que é atribuída a Tomás de Aquino (Século XIII). É um tratado alquímico medieval que combina simbolismo alquímico, misticismo cristão e poesia. A obra é considerada uma das mais enigmáticas da tradição hermética e, por isso, frequentemente comparada à Tabula Smaragdina e ao Splendor Solis. É composto por sete parábolas alquímicas que descrevem o processo da Grande Obra, entrelaçando alegorias cristãs e imagens proféticas com ensinamentos sobre a transmutação espiritual e material. Tradicionalmente é atribuído a São Tomás de Aquino, o teólogo e filósofo católico mais influente da Idade Média.

Mas essa autoria é controversa. Alguns estudiosos acreditam que o autor real pode ter sido um alquimista anônimo, ou mesmo um monge influenciado pelo pensamento tomista. A ligação com Aquino se dá porque a obra contém elementos de sua teologia, especialmente sua visão sobre a sabedoria divina como princípio transformador, algo que pode ser interpretado em um contexto alquímico. A obra é um diálogo filosófico e alegórico que descreve a busca pela Pedra Filosofal como um reflexo da transformação da alma humana, retratando a Sabedoria como uma figura feminina, inspirada no Livro da Sabedoria bíblico, que aparece como uma entidade mística que guia o alquimista. A União dos Opostos, através da integração dos princípios masculino e feminino, enxofre e mercúrio, matéria e espírito.

As Sete Etapas da Transmutação relacionadas aos processos alquímicos: Nigredo, Albedo, Citrinitas e Rubedo. O Ouro Filosófico como Iluminação Espiritual, não apenas a transmutação dos metais, mas a transformação do ser humano rumo à perfeição divina. O Aurora Consurgens sobrevive em alguns manuscritos medievais iluminados, ou seja, ricamente ilustrados. Algumas das imagens mais marcantes incluem:

• O Sol e a Lua Casando-se – Símbolo da harmonia entre os opostos.

• O Rei Morto e Ressuscitado – Representação do ciclo alquímico da putrefação e renascimento.

• A Sabedoria segurando o Cálice – Ligação entre alquimia e cristianismo, evocando o Santo Graal.

É considerado um dos textos mais místicos e filosóficos da alquimia ocidental que influenciou alquimistas posteriores, como Basílio Valentim e Paracelso. Bem como inspirou a psicologia junguiana, seu criador, Carl Jung, estudou profundamente o Aurora Consurgens e interpretou suas imagens como arquétipos da individuação e da integração do inconsciente. Existem cópias digitalizadas disponíveis em bibliotecas especializadas e arquivos acadêmicos. Uma análise detalhada pode ser encontrada em estudos de Carl Jung e obras modernas sobre alquimia e simbolismo medieval. O Aurora Consurgens é uma obra fascinante que une misticismo, alquimia e filosofia cristã, oferecendo uma visão alegórica da transformação espiritual e material. Seu simbolismo continua sendo objeto de estudo tanto no ocultismo quanto na psicologia e na teologia.

“O Mistério das Catedrais” (Le Mystère des Cathédrales) – Fulcanelli (1926), é um dos livros mais enigmáticos do século XX. Escrito pelo misterioso alquimista Fulcanelli, a obra explora o simbolismo esotérico e alquímico presente na arquitetura das catedrais góticas, especialmente as francesas. A tese central do livro é que os mestres pedreiros medievais deixaram mensagens codificadas nas esculturas e ornamentos das catedrais, revelando conhecimentos ocultos sobre a Grande Obra Alquímica e a transmutação espiritual.

A identidade de Fulcanelli permanece desconhecida até hoje. Algumas teorias sugerem que ele poderia ter sido: Eugène Canseliet – Discípulo de Fulcanelli e editor da obra, Jules Violle – Um físico francês com interesse em alquimia ou Jean-Julien Champagne – Ilustrador do livro e alquimista. Segundo relatos de Canseliet, Fulcanelli teria alcançado a Grande Obra e desaparecido misteriosamente, sugerindo que ele teria descoberto o segredo da imortalidade. O livro analisa a simbologia alquímica presente em diversas catedrais, especialmente Notre-Dame de Paris, Amiens e Chartres. Os principais temas abordados são:

• A Linguagem das Pedras, pois as catedrais funcionam como livros de pedra, transmitindo segredos ocultos.

• Os Arquitetos-Alquimistas, os construtores góticos dominavam a ciência hermética e incorporaram sua filosofia na arte das catedrais.

• Símbolos e Alegorias Alquímicas, o livro identifica imagens como a fênix, o dragão, o pelicano e o basilisco como referências ao processo alquímico.

• A Pedra Filosofal e a Catedral de Notre-Dame, Fulcanelli sugere que a catedral contém pistas para a criação da Pedra Filosofal.

O Simbolismo Alquímico nas Catedrais é representado por:

• O Sol e a Lua – Representam os princípios alquímicos do enxofre e mercúrio.

• O Dragão e o Basilisco – Alegorias da matéria-prima bruta que deve ser purificada.

• O Pelicano – Símbolo do sacrifício e regeneração, uma das fases da Grande Obra.

• O Homem Verde – Representa a energia vital e a transmutação da natureza.

O livro influenciou o pensamento esotérico e ocultista do século XX e inspirou teorias sobre a relação entre arquitetura, alquimia e espiritualidade. Foi estudado por alquimistas, ocultistas e até cientistas interessados em suas implicações, servindo como base para diversas obras sobre simbolismo esotérico e história secreta da arquitetura. O livro foi publicado em francês e traduzido para vários idiomas. Cópias podem ser encontradas em livrarias especializadas em esoterismo, bem como em versões digitais e fac-símiles. O Mistério das Catedrais é uma obra única que conecta arquitetura, misticismo e alquimia, sugerindo que os segredos da transmutação podem estar esculpidos nas pedras das grandes catedrais góticas. Até hoje, permanece como um dos textos mais intrigantes da tradição hermética. Existem outras obras fundamentais ao alquimista, como:

• “A Tábua de Esmeralda” (Tabula Smaragdina) – Hermes Trismegisto (Origem incerta, Idade Média), cujo texto fundamental que descreve o princípio “O que está em cima é como o que está embaixo.”

• “A Alquimia” – Paracelso (Século XVI), que explora a alquimia como ciência médica e filosófica.

• “O Livro da Aliança da Sabedoria” – Artephius (Século XII), um tratado sobre a busca da Pedra Filosofal e a imortalidade.

• “Mutus Liber” (O Livro Mudo) – Anônimo (Século XVII), um livro alquímico sem palavras, contendo apenas ilustrações enigmáticas sobre o processo alquímico.

• “A Nova Luz Química” (Aurea Catena Homeri) – Anônimo (Século XVIII), um texto sobre a cadeia dourada da natureza e a ligação entre alquimia e filosofia natural.

• “As Doze Chaves da Filosofia” – Basílio Valentim (Século XVII), que é um guia alegórico e prático sobre os estágios da transmutação alquímica.

Quando falamos em Opus Magum, em alquimia, não se refere a um livro único, mas a todas essas obras que podem ser consideradas grandes compêndios que descrevem ou simbolizam o processo da Grande Obra. Uma obra, dentro dessa classificação, é repleta de simbolismos que se estendem além da prática alquímica, envolvendo dimensões filosóficas, espirituais e psicológicas. A Pedra Filosofal, simboliza a perfeição espiritual, a sabedoria absoluta e a união com o divino. Não é apenas um objeto físico, mas um estado de ser. A Jornada do Alquimista é refletida pelo próprio Opus Magnum, pois o praticante precisa purificar sua alma e integrar os aspectos de sua psique para alcançar a iluminação. Seus quatro estágios estão associados a ciclos naturais (morte e renascimento), fases lunares e processos universais de transformação.

Carl Gustav Jung reinterpretou a obra Aurora Consurgens, classificada como Opus Magnum, como uma metáfora para a individuação, ou seja, o processo psicológico pelo qual uma pessoa integra os aspectos conscientes e inconscientes da psique, alcançando um estado de totalidade através de suas etapas. O Nigredo, significando o enfrentamento da sombra e do caos interior. O Albedo, significando a purificação e despertar da consciência. Citrinitas significando integração e maturação. E o Rubedo, significando a união do consciente com o inconsciente, simbolizando o Self como a totalidade da psique.

Num contexto contemporâneo obras alquímicas, classificadas como Opus Magnun, podem ser aplicadas para a transformação interior, e para processos de regeneração ecológica ou social. Representam a jornada alquímica e simbólica que transcende a prática de transmutação de metais, funcionando como uma poderosa metáfora para o crescimento espiritual, psicológico e pessoal. É uma busca pela perfeição, equilíbrio e iluminação, que permanece relevante como um arquétipo universal de transformação e evolução. Além dos aspectos filosóficos, a Alquimia é uma prática espiritual voltada para a transformação interna do praticante. Os alquimistas aprendem que seus laboratórios e substâncias são extensões de sua própria psique. Assim, o trabalho físico de destilação, calcinação ou transmutação de metais é um reflexo simbólico da purificação e elevação da alma. Ela está repleta de símbolos que refletem processos espirituais. Por exemplo:

• O Ouro: Simboliza a perfeição e a iluminação espiritual, o estado mais elevado do ser.

• A Pedra Filosofal: Representa o objetivo final, tanto na transmutação física quanto na transformação espiritual.

• Os Quatro Elementos: Terra, água, ar e fogo simbolizam não apenas substâncias materiais, mas também aspectos da experiência humana.

Embora a ciência moderna tenha substituído muitas práticas alquímicas, a essência filosófica e espiritual da Alquimia continua relevante. Ela inspira disciplinas como a psicologia, especialmente no trabalho de Carl Jung, que usou a Alquimia como metáfora para os processos de individuação e integração da sombra. Assim, a Alquimia permanece viva como um caminho simbólico para o autoconhecimento e a transformação espiritual, lembrando-nos de que a verdadeira “transmutação do chumbo em ouro” é a transformação do ego em consciência iluminada.

O colégio dos Magos e Sacerdotisas, a partir de março de 2025 iniciará novas turmas para os curso de “Magia: fundamentos e práticas”. O curso, com seis encontros de duas horas será on line e apresenta a seguinte ementa de suas atividades: Introdução e apresentação do curso, a importância cultural da magia e os símbolos mágicos; O triângulo: magia, religião e ciências; Fórmulas de Proteção e neutralizações com os quatro elementos; Magia, bruxaria e feitiçaria; Magia com a Água através dos banhos rituais; Magia com defumações seus preparos e usos; Magia com óleos suas preparações e seus usos; As Fórmulas faladas, as preces e os símbolos escritos. As matrículas estão abertas e os interessados podem entrar em contato direto com o Colégio dos Magos e Sacerdotisas através da Bio, Direct e o Whatsapp: 81 997302139.

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Marco Mammoli é membro do conselho do Colégio dos Magos e Sacerdotisas.

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