Fome Zero 2.0
Lula tropeça no osso ao induzir Brasil a criar confraria de faquires
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emO presidente Lula, do alto de sua sabedoria popular, está sugerindo que os brasileiros encarem a carestia com um golpe de mestre: parem de comprar. A teoria é simples — se ninguém abrir a carteira, os preços caem. Lógica de feira, dessas que resolvem a inflação no gogó. O recado é claro: se os preços subiram, a culpa é do consumidor, que insiste nessa mania antiquada de querer comer todo dia.
Mas há um detalhe intrigante: e se os preços não caírem? Porque, convenhamos, comida não é como um carro zero ou um celular da moda. Ninguém compra arroz e feijão por capricho. Se a regra presidencial vingar, o país pode, inadvertidamente, fundar a maior confraria de faquires do mundo, onde a fome vira disciplina e o estômago ronca em protesto silencioso. Na melhor das hipóteses, o presidente anda tropeçando no osso e caindo de cara na picanha da vaca que foi pro brejo.
Imaginem a cena: milhões de brasileiros treinando para deitar em camas de prego, buscando iluminação transcendental pela abstinência compulsória do pão nosso de cada dia. Uma nação inteira em jejum intermitente forçado, esperando que o supermercado, enfim, se compadeça. O povo treinando o autocontrole enquanto observa vitrines de supermercados como quem contempla um oásis no deserto. Isso acontecendo, o Brasil terá finalmente alcançado um novo patamar espiritual — um PIB robusto criado via jejum.
Seria cômico se não fosse trágico. A realidade é que quem manda no preço do arroz não é o freguês, mas sim um tal de mercado — essa entidade invisível que, ao contrário dos faquires, nunca passa fome.
A estratégia, claro, funciona perfeitamente com supérfluos. Carros, celulares de última geração, pacotes turísticos para Paris — tudo isso dá para segurar. Mas e o arroz? O feijão? A carne já virou artigo de luxo há tempos. Contudo, será que o brasileiro topa boicotar também o pãozinho?
Depois da fala presidencial, o Brasil continua caminhando entre a carestia e a utopia de que a economia obedece ao desejo do consumidor. Porém, se a fome persistir, nos restará a opção de esperar que a inflação ilumine nossa consciência e nos revele o verdadeiro sentido da vida. Se é que dá para filosofar de barriga vazia.
O problema é que a fome não lê discurso, nem se comove com teoria econômica. E o mercado não se impressiona com protestos silenciosos de barrigas roncando. Ele continua ditando os preços enquanto o consumidor, agora promovido a asceta involuntário, descobre que força de vontade não enche prato.
No final das contas, a carestia continua, o mercado finge que não é com ele, e a única coisa que cai mesmo é o poder de compra. Mas, quem sabe, com um pouco mais de paciência, os brasileiros não desenvolvem a incrível habilidade de se alimentar de luz? A inflação, essa malvada que atormenta os pobres, será vencida não com políticas econômicas, mas com o poder supremo do boicote popular. É a revolução do carrinho de compras vazio.
Já que o mercado não cede, nos resta o jejum compulsório. A classe média sumirá, dando lugar à elite dos que ainda mastigam e à plebe dos que apenas observam.
Nosso povo, conhecido por sua resiliência, terá que encontrar alternativas. ‘Embalar o vento’ para comer depois? Sobreviver de esperança? Vamos criar a arte de fotossíntese humana, absorvendo nutrientes solares? Talvez seja uma saída, porque, dizem, o futuro pertence aos iluminados – e aos que não desmaiarem antes.
Enquanto isso, o mercado segue inabalável, pois ele não tem estômago, só bolsos fundos. O consumidor, promovido a asceta involuntário, descobre que fome não se combate com ideologia, mas com comida. Mas talvez haja um erro em todo esse raciocínio. Quem sabe, em breve, surja um programa social inovador, tipo Fome Zero 2.0 – Agora Vai Na Força do Pensamento.
Pelo visto, Lula, na condição de pseudo professor, pretende ensinar que no Brasil, se a solução para a inflação é simplesmente parar de comer, o problema nunca foi a economia – foi a falta de fé. Entretanto, como a cultura da fé não é o carro-chefe do petista, a turma do contra (ele) começa a deitar e rolar de olho em 2026.
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José Seabra é diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras