Política de circo
Guerra de bonés mostra que dois trouxas juntos criam dupla de patetas
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Apesar das incessantes negociatas políticas e da proximidade do abismo econômico, o Brasil é muito maior e, portanto, merece muito mais de seus homens públicos do que uma absurda e idiota guerrinha de bonés. Em lugar de discussões e debates relativos à recuperação da economia, à redução dos preços dos alimentos e dos combustíveis e, principalmente, à melhoria da saúde e da educação em todo o país, nossos insossos, inodoros e insípidos deputados, senadores, governadores e até presidentes e ex-presidentes descobriram uma nova forma de animar o circo em que se transformou a política brasileira.
Mais do que mostrar à população a incapacidade do Congresso Nacional em produzir algo de útil para o país, a brincadeirinha séria dos parlamentares é a prova de que precisamos repensar nossas escolhas. Associada à infantilidade de alguns, a leseira e a preguiça da maioria dos congressistas passaram dos limites. Em vez de briguinhas de comadres e de bêbados, suas excelências deveriam refletir a respeito da necessidade de honrar a missão acertada com os eleitores.
Ainda que os políticos ruins sejam o espelho do eleitor, isto é, reflexo de um povo descompromissado com seu próprio futuro, o desleixo dos parlamentares e a estagnação do governo são um insulto àqueles que acreditaram em promessas de um e de outro lado ideológico. Como não sou de direita ou de esquerda e tampouco tenho políticos de estimação, estou à vontade para afirmar que a politicagem desta e da última legislatura virou uma arma letal contra as boas relações, as reputações e, sobretudo, contra os sonhos dos brasileiros que não aplaudem imbecilidades do tipo guerra de bonés.
Os que aderiram à insana disputa conceitual e marqueteira entre o nacionalismo de Bolsonaro e o populismo de Lula acabaram por comprovar uma antiga tese de pensadores, para os quais os políticos não conhecem o ódio, muito menos o amor. Todos são conduzidos pelo interesse e não pelo sentimento. A fogueteira lua de mel dos bolsonaristas com o expansionista, demagogo e fútil Donald Trump só não é pior do que o inadequado e desenxabido marketing inaugurado pelo staff do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ainda que tenha sido uma resposta ao slogan trumpista “Make America great again (Faça a América grande de novo), desnecessário dois ou três ministros de Estado aparecerem no Congresso com um boné estampando a mensagem “O Brasil é dos brasileiros”. Em tese, todos sabem disso. Os que desconhecem a máxima provavelmente fazem parte do grupo de idólatras e fanáticos ainda presos nas correntes da ignorância. Pois é justamente essa falta de conhecimento que gera satisfação e prazer nos maus políticos. Na prática, essa nova versão do embate do atraso e do progresso lembra um ringue com lutadores com os olhos vendados.
Como a briga política se limita à condução dos negócios públicos para proveito de particulares, a adesão dos “meninos” da direita e da esquerda aos acessórios que, teoricamente, servem para esconder a falta de neurônios dos congressistas brasileiros ajudou a aumentar a distância entre grupos políticos oponentes. Ao governador Tarcísio de Freitas, o primeiro a usar um boné com uma frase pro-Trump, e a todos os que buscaram a contradição, incluindo os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Sidônio Palmeira (Comunicação), informo que também mandei confeccionar um boné. Minha frase talvez valha mais do que mil discursos: “Político só serve para uma coisa: Nada”.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978