51 e congêneres
Governo de doido é bom quando tem uma ambulância de plantão no palácio
Publicado
em
Apresentador e co-produtor do extinto reality show The Apprentice, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mantém a personalidade televisiva. Tanto que não consegue se livrar das câmeras de televisão. Ele se acha mais importante do que os decretos que assina como se estivesse fritando pastéis. De retórica sem muita eficácia, truculento, negacionista e afeito a declarações falsas e enganosas, o mandatário corre o risco de encerrar seu segundo mandato não consecutivo de forma mais triste do que o primeiro, quando foi considerado por acadêmicos e historiadores como um dos piores presidentes da história dos EUA.
A indicação do negacionista de vacinas Robert Kennedy Jr. Para a Secretaria de Saúde é o primeiro passado para o inferno. Populista e craque em teorias da conspiração e desinformação, por enquanto, com assessoria direta de Elon Musk, assinou uma série de ordens executivas, implementando prioritariamente o seu programa de deportação em massa de imigrantes ilegais. Paralelamente, retirou o país da Organização Mundial de Saúde e do Acordo de Paris, revogou o reconhecimento da ideologia de gênero, sobretaxou importações do Canadá, do México, da China e agora do Brasil e chamou para si o ódio que dissemina de pelo menos dois terços da população do planeta.
No outro terço, além dos norte-americanos e judeus com algum desvio mental, estão incluídos os bolsonaristas corajosos, aqueles que ainda têm disposição de mostrar a cara e, principalmente, de confirmar a tese de que continuam consumindo comida estragada. Como cada um ingere o que mais lhe apetece, a minoria mais radical e que insiste em matar Lula da Silva como a única forma de resolver os problemas do Brasil não esconde a preferência pelo cocô na colher.
Deve ser o caso de um cidadão filmado dia desses entrando em um ônibus na cidade satélite de Taguatinga, em Brasília. Vestido de general e enrolado nas bandeiras brasileira e norte-americana, o cidadão de meia idade não demonstrava qualquer preocupação diante do ridículo. Fala sério. Não deve ser um sujeito normal ou, quem sabe, é um daqueles que está escrevendo um livro sem texto sobre as glórias e inglórias do fanatismo político por figuras como Donald Trump e seus discípulos espalhados pelo globo terrestre, inclusive no Brasil.
Saudosismo à parte, terei saudades eternas do tempo em que, muito mais tranquilo, o mundo era governado por dois camaradas embriagados, cada um a seu modo: o russo Boris Yeltsin e o estadunidense Bill Clinton. Como todos se recordam, o primeiro vivia mamado pela vodka e o segundo pela estagiária Mônica Lewinsky. E daí? Por que falam tanto contra a 51? Yeltsin e Clinton eram felizes. Trupicavam, mas não caiam. Como diz a gíria, Deus protege os cachorros e os bêbados. Os loucos e os aprendizes, não.
Aliás, os tomadores de 51 vão e voltam. São como os homens acima de 60 anos. A Igreja Católica deixou de considerar pecado a traição física deles, passando a entendê-la como pequeno milagre. Quanto ao mundo dos loucos, os normais é que são doidos. Deixei de me preocupar com eles, pois em terra de pessoas que aplicam a ideia da “Teoria do Louco”, quem for mais lunático será o rei. Vimos isso recentemente no Brasil. Chegou a vez dos norte-americanos. Lá como cá, talvez nunca saibamos se a pessoa está se passando por desvairada ou se realmente é instável. Tudo isso para dizer que, assim como a feijoada completa, governos de doidos só é interessante quando permite uma ambulância de plantão em frente ao palácio.
……………………….
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras
