Do palanque à timeline
Afinal, a política está evoluindo ou caminha para a regressão?
Publicado
em
A internet, especialmente as redes sociais, tornou-se um palco onde a imagem e a percepção pública, muitas vezes, valem mais do que ações concretas. Políticos, ao invés de se dedicarem a resolver problemas reais, como saúde, educação, segurança pública e desigualdade social, focam em pautas que geram likes, compartilhamento e engajamento imediato. Essas pautas, muitas vezes, são superficiais ou irrelevantes para a maioria da população, mas são eficazes em criar uma ilusão de proximidade e “modernidade”, aumentando o caos nas redes.
Essa estratégia é uma distorção da função política. Eles, que deveriam representar os cidadãos e trabalhar por seus direitos, estão mais preocupados em construir uma marca pessoal, o que desvia o foco das reais necessidades da sociedade.
Ao focar em pautas polarizadoras, os políticos alimentam a divisão social e evitam assumir responsabilidades sobre questões mais complexas e urgentes. Isso contribui para um cenário de embate constante, onde o debate público perde a qualidade e a população fica cada vez mais descrente ou iludida.
Políticos são eleitos e pagos com recursos públicos para representar os interesses da população e trabalhar pelo bem comum. No entanto, muitos parecem estar mais interessados em construir uma carreira midiática do que em cumprir seu papel. A priorização do “lucro político” (ganhar seguidores, aparecer na mídia, angariar apoio para futuras eleições) em detrimento do trabalho legislativo ou executivo é uma traição aos eleitores que confiaram em suas promessas e ao mandato que receberam.
Essa postura reforça a ideia de que a política é um jogo de interesses pessoais, e não um espaço de serviço público. A falta de compromisso com as reais demandas da população alimenta a desilusão e o descrédito nas instituições democráticas.
Enquanto políticos “lacram” nas redes sociais, muitas comunidades enfrentam problemas básicos, como falta de saneamento, transporte público precário, desemprego e violência. A desconexão entre o discurso online e a realidade offline é gritante. Ao invés de ouvirem as demandas reais da população, muitos políticos preferem adotar narrativas que soam bem, somente para seus nichos de apoiadores.
Essa desconexão mostra como a política pode se tornar um espetáculo vazio, onde o que importa é a aparência, e não a efetividade governamental. A falta de diálogo com a realidade das ruas é um sinal de que muitos políticos estão mais preocupados em agradar algoritmos do que em resolver problemas reais.
O comportamento de “lacrar” na internet, embora possa parecer inofensivo, tem impactos negativos na democracia. A população, ao perceber que suas necessidades são ignoradas, tende a se afastar da política ou a adotar visões cada vez mais extremistas. Quando os políticos falham em cumprir seu papel, priorizando o engajamento virtual em detrimento do trabalho real, eles não apenas traem seus eleitores, mas também enfraquecem o sistema democrático como um todo, contribuindo para a erosão da confiança pública e o aumento da polarização.
…………………………………………
Rafaela Fernanda Lopes é colaboradora permanente do Café Literário e eventualmente escreve textos para outras editorias de Notibras
