Política de idolatria
Radicais dos dois lados usam tempo e enchem bacia do anarquismo até o topo
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No planeta Terra ninguém está liberto das malícias da vida, das críticas, das tensões e das imperfeições. Ciente disso, sigo os ensinamentos de Albert Einstein, para quem o único ser humano imune a erros é aquele que não arrisca acertar. A verdade é que, em qualquer lugar do mundo, o isento jamais vira líder. Enfim, o pior defeito do homem é se imaginar livre dele.
A vida dura de suburbano me ensinou que, para agirmos como pessoas imparciais é obrigatório pensarmos sem conveniências e sem radicalismos. Caso contrário, perderemos a oportunidade de ver o mundo com olhos de criança, isto é, com isenção de preconceitos, com simplicidade, nada julgando e sempre aprendendo.
Profissionalmente, a isenção é uma de minhas obrigações. Por isso, não me incomoda ser chamado de comunista por aqueles que não aceitam minhas narrativas (nem as de ninguém) contra seus líderes. Na verdade, contra um líder que nada liderou. Pelo contrário. Passou e, para a maioria, o melhor é que não volte.
Também sai na urina o apelido de “patriota enrustido”, dado pelos que não aceitam críticas às falhas corriqueiras do patrono político da corrente ideológica que defendem. Não há hipótese de viver para agradar a todos. Felizmente, esse tipo de preocupação sequer passa perto de um dos meus objetivos. Como sou um sujeito de sorte, procuro fazer as coisas com seriedade e sem fixação, de modo que meus erros sejam ligeiros. Mesmo assim, às vezes sou considerado mau apenas por tentar ser justo.
As críticas, as cobranças e, principalmente, as dúvidas a respeito de quem realmente sou, me deram a certeza de que, além de originalmente democrático, o tempo é o que me parece autenticamente isento de preconceitos, pois passa para todos. Esse é o grande problema da humanidade com fixação por alguma coisa ou por alguém. Como é comum a todos, para esses até o tempo é comunista. Seja em que nível for, a colagem tira o ser humano da casinha, amordaça suas ideias e imobiliza seus pensamentos. É o caso da política de idolatria.
Por mais que não admitam e não gostem de ouvir, tanto a direita admissível quanto a esquerda sonhadora brasileira mergulharam na mesma bacia anarquista. Tendo à frente os pressupostos da soberba e da superioridade, seus representantes recebem críticas com a mesma isenção de uma leoa durante a caçada. Como reflexo de que só acreditam no que dizem, se opõem a todo tipo de hierarquia e dominação alheia. E só mudarão no dia em que os felinos e os cervos conseguirem comer no mesmo cocho. No Brasil de hoje, direita e esquerda só diferem na hora do adeus.
Entretanto, não há como negar que os extremistas inconformados com a derrota se confortam com a certeza de estarem sempre do lado certo. No entanto, não são capazes de reconhecer os seres que aparecem em seus próprios espelhos. Meros hermafroditas. Se eles ouvissem, diria que ouvir opositores com isenção é o caminho mais curto para melhorar as chances de eles fazerem o mesmo. Dando nomes aos bois, o grande erro dos primeiros é se fixar em Jair Bolsonaro como líder único. Já os segundos acham que Lula da Silva é eterno. Ambos esquecem que há vida além do radicalismo e da perpetuação.
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*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978
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