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A casa caiu

Agora nem Papai Smurf tira o cartão vermelho de Bolsonaro

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto de Arquivo

Que é acostumado com a derrota jamais será um vencedor. O jogo do poder seduz, vicia, pode matar e transforma em refém quem faz mau uso dele. Pior do que o mau uso do poder é a ilusão de algum poder. É por isso que normalmente a derrota enfurece os deslumbrados, mesmo que percam o que nunca foi deles. Será esse o perfil do ex-presidente Jair Bolsonaro? Respondo lembrando um pensamento apócrifo, mas muito revelador: Tem poder quem age, e mais poder ainda quem age certo. No resumo da ópera, só tem poder quem faz acontecer. Quem não faz, chora, faz chorar e acaba sem poder de novamente buscar o poder.

Nesse momento de tempestade política, cautela e caldo de caldo de galinha são recomendações mais úteis do que canja de pato castrado. Ou seja, é inútil tentar fazer com mais o que pode ser feito com menos. Todos sabem que o leão é o rei da selva porque ele convive bem e não enfrenta seus predadores. A respeito do Brasil imaginado pelos bolsonaristas, afrontar gratuitamente adversários, espalhar soberba, destilar ódio e desafiar desmedidamente as leis são expressões claras de autoritarismo e, portanto, geradoras de incômodos, demorados e desgastantes conflitos.

Pois o mundo desabou sobre Jair. Tantas ele fez que o brasileiro cansou. Nem todos, é verdade. Cansados estão aqueles que sabem que o cidadão abusou da regra três. Avançou o cercadinho sempre que quis, desacatou as linhas que demarcavam o gramado da legalidade e o resultado foi aquele que se viu. Demorou, mas se foram os momentos felizes. Chegou o dia em que a casa caiu. E desmoronou de vez, provavelmente deixando raízes no pensar do ora denunciado como o líder de um monte de coisas ruins. Algumas tenebrosas.

Arremedando Vinícius de Moraes, o perdão também cansa de perdoar. Parte do povo chorou depois que percebeu que a expectativa virou realidade, mas estejamos certos de que ele também vai chorar quando entender que até mesmo os “patriotas” já perderam a esperança. A súmula do juiz auxiliar chegou ao escalão superior. Agora é só uma questão de tempo. De acordo com as imagens do VAR, o mito cometeu seguidas faltas, algumas do tipo sapatadas. Mereceu o primeiro cartão amarelo, recebido nas urnas no primeiro e no segundo turno das eleições de 2022.

Ainda que Jair Bolsonaro estivesse na arquibancada, a segunda e mais grave amarelada veio com o 8 de janeiro. Dizem os analistas das quatro linhas que o cartão vermelho é inevitável. Afinal, é inquestionável o fato de que o jogo não foi jogado conforme as normas da Confederação Brasileira dos Políticos Profissionais (CBPP). Hoje, após o xadrez montado peça a peça pelo procurador-geral da República, até mesmo os brasileiros que gostam de mentiras começam a preocupantemente temer a verdade.

Diante do exposto na volumosa papelada do procurador Paulo Gonet, me parece que o jus sperniandi será inócuo, independentemente da força e do apoio ao desesperado direito de reclamar. Por exemplo, embora tenham poder, Papai Smurf e Tio Gargamel X, podem bufar, mas nada podem fazer contra o Brasil, contra o Supremo Tribunal Federal e, particularmente, contra o ministro Alexandre de Moraes. Eles não são e nunca serão os donos do mundo. Diz o Código de Processo Civil que decisão judicial deve ser cumprida. Ponto final. Em breve ela será. Até lá, vale lembrar às smurfettes e aos robustos, gênios, jocas e ranzinzas que o poder é uma ilusão criada para fazer com que esqueçamos quem somos.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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