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Mandioca e pitoca

Eleitor, feito privada, precisa mudar de atitude e dar o troco aos políticos

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto Lula Marques/ABr

Eleitos para legislar em favor da população brasileira, para se harmonizar com os demais poderes e, sobretudo, para respeitar os preceitos constitucionais, os 584 deputados e senadores só respeitam um poder: o deles. Estimulados pelas centenas de sanguessugas denominadas governadores, prefeitos, deputados estaduais, distritais e vereadores, as excelências de coisa nenhuma vivem de comer lagosta e viajar para a Europa com dinheiro público. Enquanto isso, os pobres coitados do outro lado da urna comem chuchu e viajam para Itu. É como a rima do toalete e da privada, locais em que rico faz xixi e o pobre dá uma mijada.

Pior do que a fórmula daquele medicamento utilizado para as dores da hemorroida, o analgésico, eles se acham acima de Deus e em cima de todos. Tanto que, literalmente, riem quando um dos pares diz que vai ao reservado para fazer uma caca. Em outro ambiente, o pobre se rende à casinha, onde costuma dar uma obrada. No fim do ano, acompanhados das madames, suas respectivas Maria Estela, Sofia de Orleans e Clotilde de Bragança, deputados e senadores se unem ao presidente da República para assistirem a um concerto em uma sala vip de Paris, Londres ou Pequim.

Do outro lado da cidade, o lascado contribuinte se limita à macumba em companhia da Raimunda. É por isso que o anedotário brasileiro vez por outra lembra que rico sempre leva vantagem e o pobre só leva na… barafunda. Sorte é que o despossuído e o desfavorecido nunca desistem. Pelo contrário. Eles engolem o choro e vão à luta. Para a plebe, nada mais importante do que o conselho de Yasser Arafat, ex-líder palestino. Segundo Arafat, por maior que seja o buraco em que você se encontra, pense que, por enquanto, ainda não há terra em cima.

No farisaico Eldorado das emendas, centrados no Centrão e em outras siglas fisiológicas, suas excelências, a exemplo dos meninos do Maternal I, são absolutamente despreparadas para o serviço público. Tanto que diariamente se utilizam do que é público e deixam para o eleitor apenas a privada. Eleitas sem saber o que farão com o mandato, falam, falam, falam, mas não têm projetos, ideias, bússolas, verdades, tampouco discursos com um mínimo de coerência. E se mantêm assim depois de tomarem assento nas casas legislativas do país. Na Câmara Federal e no Senado, a brincadeira é ainda mais séria.

À maioria dos parlamentares falta espírito público, vontade política e desejo de trabalhar por aqueles que os elegeram. Na mesma proporção, sobram imposições deles aos chefes de executivos, notadamente ao Federal, onde o cofre é mais robusto. Para quem, como eu, acompanhou o trabalho dos constituintes de 1987/1988, é vergonhoso perceber a deterioração entre o Legislativo e a sociedade. A ordem atual é substituir os direitos adquiridos do povo por mais regalias para os homens públicos. O retrocesso é cristalino. De acordo com a Lei de Kidlin, se você escrever um problema de forma clara e específica, terá resolvido metade dele.

Portanto, usemos essa lei para que tentemos mudar a ordem da máxima dos pensadores mais politizados, para os quais os pobres não foram feitos para a política, mas para sustentar o poder dos políticos. Precisamos sair da pré-escola política e entender que nenhum eleitor é obrigado a escolher o candidato menos ruim. Quem sabe o melhor nos exclua da casa de maloca, também nos permita comer bombom e petit gâteau em vez de tapioca e paçoca e nos faça crer que podemos ter mandioca e não uma medíocre pitoca. Por falar em usar, recomendo aos que carregam os políticos nas costas aquele famoso provérbio árabe: Zilef ajes e aortap a esu. Se você não entende árabe, leia de trás para a frente e pronto.

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*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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