Turma da Marília
Cruzeiro tem causos de Carnaval de arrepiar com patota acima dos 60
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Marília, que nem de longe parecia com a do tal Dirceu, era uma doidivana e jamais negou sua sina. Viveu intensamente, seja para o bem, seja especialmente para o mal. No entanto, apesar de percorrer quase sempre o caminho dos impuros, era benquista por boa parcela da comunidade, incluídos aí gente comum, padres, traficantes, policiais, milicianos e até pastores. É verdade que era, de quando em vez, alvo de beatas de plantão, mas nada que manchasse ainda mais a fama de adepta do pagode, por mais incongruente que fosse em relação aos bons costumes.
A mulher, quando atingiu a maioridade dos idosos, passou a chefiar um bloco de bate-bola, que tocava o terror durante o carnaval. A gangue era formada principalmente por gente de bem… Quer dizer, bem longe do que a sociedade, hipócrita que é, espera que seja.
Irreverente como ela só, Marília não só iniciava os festejos na rua, como comandava a garotada já passada dos 60 e dava o ritmo da bateria, que era composto por seleto grupo de músicos do Cruzeiro, provenientes das mais afamadas periferias cariocas. É verdade que entre os bambas havia o João Carlos, vulgo Fraldinha, que foi aceito na patota, apesar de ser menor de 40. No entanto, não pense você que aquilo era apadrinhamento, mesmo porque o moleque era o rei da cuíca.
Durante a passagem do bloco, ninguém atravessava até que a cerveja batesse no tampo. Também não havia quem fizesse reclamação ou, ao menos, não estava com ânimo para discórdia. Todas as pendengas já haviam sido resolvidas no caminho, e até a polícia respeitava. Bate-bola na pista, que fosse fazer ronda em outro lugar.
Tempos idos, cujas histórias ainda são contadas pelo único sobrevivente daquela era. Fraldinha, hoje cada vez mais perto de fazer companhia à Marília no Cemitério Campo da Esperança, onde também repousam outros foliões de outrora, adora contar causos sobre o antigo bloco de bate-bola.
O sambista também é afamado conquistador, inclusive de mulheres comprometidas. Não se sabe como o sujeito não morreu de morte matada, haja vista tantas navalhadas que passaram próximas, algumas até atingindo as carnes. Dois tiros de raspão, além de rei da cuíca, parece que o gajo tem o corpo fechado.
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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