O tabuleiro supremo
Togas negras estão prontas para um embate histórico com os coturnos lustrados
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As togas negras e os coturnos lustrados preparam-se para um embate histórico. No Supremo Tribunal Federal, o destino de generais quatro estrelas, outrora habituados a marchas e estratégias de guerra, será decidido por ministros experientes, defensores intransigentes do Estado Democrático de Direito. O julgamento dos figurões da tentativa de golpe contra Lula está em curso, e seu desfecho é uma incógnita que desafia até mesmo os oráculos da política nacional.
Sun Tzu, estrategista imortal, diria que conhecer o inimigo é metade da vitória. Mas e quando os adversários se conhecem há décadas? Quando já dividiram homenagens, eventos oficiais e até mesmo trocas de afagos institucionais? Os generais, mestres na arte da guerra, sabem que o tribunal não é campo de batalha convencional. Aqui, não há blindados, mas argumentos; não há fuzis, mas votos proferidos em tom solene.
De um lado, os ministros da Suprema Corte, ungidos pela Constituição para serem os guardiões do pacto republicano. De outro, militares que, em dado momento, julgaram possível dobrar as instituições pela força, apostando na erosão da democracia como quem move peças de xadrez com excessiva confiança. O golpe fracassado os trouxe, agora, a um novo tabuleiro – onde cada palavra pode ser uma sentença, cada prova, um xeque-mate.
O Brasil assiste, entre estarrecido e incrédulo. Haverá punição exemplar, consolidando a linha dura da Justiça? Ou o jogo político reservará reviravoltas, libertando os estrategistas do golpe em nome de alguma conveniência futura? O veredicto pode mudar não apenas o destino dos réus, mas o próprio desenho do poder no país.
No fim, como diria Sun Tzu, “a suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”. A democracia brasileira, porém, já lutou demais para se manter de pé. Resta saber se, nas barras do tribunal, ela conseguirá sua mais emblemática vitória – ou se presenciará, uma vez mais, o sopro da impunidade a apagar suas velas.
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Marta Nobre é Editora Executiva de Notibras
