Curta nossa página


A morte de uma instituição

Polly pisa na bola e OAB vira coadjuvante em filme que astro é Ibaneis

Publicado

Autor/Imagem:
Carolina Paiva - Foto de Arquivo

A Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Distrito Federal, outrora protagonista na defesa da sociedade e nas grandes transformações políticas e jurídicas do país, tem acumulado ausências estratégicas em momentos que exigiriam sua atuação firme e inquestionável.

O episódio mais recente ilustra bem essa perda de protagonismo: a formação do consórcio entre o Governo do DF, o Governo de Goiás e a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para tentar impedir o aumento das passagens e melhorar o transporte no Entorno, sem que a OAB-DF estivesse sequer na mesa de negociações.

Pelo andar da carruagem, já se fala na articulação de uma chapa plural para disputar e vencer as próximas eleições na Ordem. E isso tudo, mesmo sem que Paulo Polly Maurício tenha sequer esquentado a cadeira. O motivo se justifica. Afinal – isso é voz corrente entre advogados – o sucessor de Délio Jr ganhou com uma chapa que virou as costas para a sociedade.

É notório que o transporte no Entorno é um problema histórico, que afeta diretamente milhares de trabalhadores que enfrentam longas distâncias diariamente e sofrem com tarifas abusivas e um sistema precário. Desde 2023, a Comissão de Direito Administrativo da OAB-DF vinha atuando junto à ANTT para viabilizar um acordo entre DF e Goiás, buscando a criação do consórcio que garantisse um transporte mais acessível e eficiente.

O caminho estava pavimentado para que a OAB-DF assumisse um papel de liderança na discussão. Entretanto, o que se viu foi a entidade se esquivar da responsabilidade. Um ofício que deveria ter sido assinado e enviado pelo presidente da OAB-DF para formalizar a participação da entidade no debate ficou engavetado, travado pela morosidade burocrática e pelo aparente desinteresse da atual gestão.

Com isso, quando finalmente o consórcio começou a sair do papel, a OAB-DF não estava lá. Não participou da construção jurídica do acordo. Não esteve na mesa de discussões. Não teve voz.

Pelo que se vê, a OAB de hoje não é nem sombra da OAB do passado. Em momentos cruciais da história brasileira, a advocacia desempenhou papel fundamental na construção das bases institucionais do país. Francisco Pontes de Miranda, um dos maiores juristas brasileiros, foi um exemplo da advocacia engajada, atuando na sistematização do direito no Brasil e contribuindo para a consolidação das bases do Código Civil de 1916, um marco na estruturação das relações jurídicas no país.

A OAB, por décadas, esteve envolvida na formulação de grandes mudanças legais, sendo voz ativa na proteção dos direitos civis, na estruturação do Estado e na modernização da Justiça. Foi uma instituição que não apenas representava advogados, mas que liderava debates essenciais para a sociedade, exigindo transparência, governança e respeito às leis.

Hoje, no entanto, a Ordem parece ter se transformado em um palanque de festas e fotos para o Instagram. O que antes era um bastião da advocacia agora se dedica a um calendário repleto de eventos sociais, ressacas de carnaval, confraternizações e ações de autopromoção. A atuação técnica e institucional, que deveria ser prioridade, tem sido ofuscada por uma gestão que mais se preocupa com festividades do que com a advocacia e a sociedade civil.

Enquanto advogados enfrentam desafios reais – morosidade da justiça, desvalorização da profissão, falta de protagonismo nos debates públicos -, a OAB-DF parece mais preocupada com balões, música alta e pompons balançando nas redes sociais.

Urge que a Ordem retome seu lugar na história. A grande questão que fica é: onde está a OAB que sempre exigiu estar à frente das grandes questões sociais? A instituição deveria ter sido protagonista na construção desse consórcio de transporte no Entorno. Deveria ter se colocado como peça-chave na elaboração jurídica do projeto. Deveria ter exigido um assento na mesa de negociações. Mas preferiu ficar de fora. Preferiu o silêncio. Preferiu a inexplicável omissão.

A advocacia e a sociedade civil do DF precisam, mais do que nunca, de uma OAB forte, atuante e comprometida com aquilo que realmente importa. Uma OAB que não se limite a ser apenas um palco de festas, mas que recupere sua verdadeira essência: a de uma instituição que luta, que debate e que transforma a realidade. A pergunta que fica é até quando a OAB-DF continuará se escondendo atrás de firulas, enquanto a sociedade precisa de ação?

……………………………………………..

Carolina Paiva é Editora do Quadradinho em Foco

 

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.