Reminiscências
Juvenal Portella, o Chefe e o jornal de papel da gaiola dos passarinhos do Dan
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Sempre fui um apaixonado por jornal. Jornal de papel mesmo, que vinha carregado de tinta de chumbo, que, vez ou outra, escorria ao menor contato com pingos d’água. Sentia isso nas mãos, pois era hábito, quando morava em Copacabana, ler as notícias em frente à Princesinha do Mar.
Depois de um mergulho, retornava para a cadeira e, invariavelmente, minhas mãos ficavam manchadas da tinta do jornal. Nem ligava, já que as notícias me encantavam, antes mesmo de me formar em jornalismo, tendo sido eu aluno do lendário Juvenal Portella, carioca do Méier que nem o talentoso poeta e escritor Daniel Marchi, o Dan.
Portella, ah, que saudade desse mestre da arte de fazer jornalismo! Grande figura, grande mestre, grande conhecedor de música, apaixonado pela Mangueira, apesar de ser Portella. Ah, também apaixonado torcedor do Fluminense, mesmo tendo trabalhado cobrindo o Botafogo. Certa vez, ele me confessou: “Edu, tive que pedir pra sair, pois já estava virando botafoguense. Que time apaixonante é o Botafogo!”
Outra coisa que aprendi com o Portella, que entrou para o ramo em 1958, é que “jornalista que se preza tem que escrever sobre qualquer assunto. Se não tiver o necessário conhecimento técnico sobre o assunto, tem que pesquisar.” Tal ensinamento bem que poderia ser dito pelo meu outro mestre, José Seabra, o Chefe, que me instiga a não temer qualquer assunto. “Edu, na dúvida, investigue igual Olho Vivo e Faro Fino, pois o leitor precisa ser respeitado.”
Sei que estamos na era digital, que, parece, democratizou um tanto mais a leitura das notícias, apesar de tanta fake news. O meio ambiente agradece, sem contar que a agilidade da notícia chegar ao consumidor aumentou. Mesmo assim, sempre que viajo, gosto de comprar jornais locais, invariavelmente de papel. Além de ser um ato de valorizar o trabalho de inúmeros jornalistas espalhados pelo Brasil, é algo que me dá um prazer inestimável, como se estivesse eu novamente sentado diante da praia mais linda do mundo folheando as páginas repletas de notícias.
Para concluir esta crônica, eis que me veio à mente uma frase dita pelo Dan: “Edu, também sou apreciador dos periódicos de papel, quando o jornal de ontem virava fundo da gaiola de passarinho.”
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Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’
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