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Aversão ao frio

De Urupema para Brasília, Geraldo agora projeta morar na Linha do Equador

Publicado

Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Produção Irene Araújo

Geraldo, como todos os outros viventes, tinha afeição por certas coisas, aversão por outras. No entanto, o sujeito não suportava frio. Isso mesmo! O frio era algo que o deixava de humor pra lá de azedo, como se tivesse passado a madrugada dentro de um liquidificador e, assim que os primeiros raios solares desabrochassem, precisasse ir trabalhar.

Problema maior era que o azarado havia nascido em Urupema, cidade catarinense afamada por ser a mais gélida do país. E, para piorar a situação, a família era desprovida de recursos suficientes para bancar um aquecedor. No máximo, dava para colocar algumas lascas de madeira na bacia de ferro. Quando o inverno apertava, a parentada se espremia em volta da bacia antes que alguém congelasse.

Adolescente, jurou que um dia sairia daquele congelador e moraria nos trópicos. Nunca mais sentiria frio na vida. A promessa não se cumpriu, apesar da mudança para um local de clima mais quente, mesmo que seco que nem o Saara.

Agora homem, Geraldo passou em um concurso público e veio morar em Brasília. O salário era suficiente para pensar até em casamento, a despeito do elevado custo de vida na capital. Não chegou a casar, pois a mulher por quem se apaixonou estava de olho em outro. Seja como for, Geraldo acabou se engraçando para cima da Maria da Graça, a Gracinha, colega de trabalho.

De namoro firme, o gajo se sentiu preparado para enfrentar os invernos em Brasília, que, afinal, não são tão inocentes como algum desavisado possa imaginar. É verdade que nada parecido com os de Urupema, mas longe do que Geraldo supunha. Tanto é que, durante um churrasco na casa de um amigo, eis que aconteceu o seguinte interlúdio.

— E aí, Geraldo, gostando de Brasília?

— Odiando!

— Ah, aposto que está sentindo falta do frio da sua cidade.

— Quem gosta de frio é picolé e pinguim, Pedro.

— Hum! Mas aqui é mais quente do que a sua terra, né?

— Isso não posso negar, mas o meu sonho é outro.

— E qual seria, Geraldo?

— Quero construir uma casa na Linha do Equador. Metade numa banda, metade na outra e o quarto no meio.

………………

Eduardo Martínez é autor do livro 57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’

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