Delmasso abre o jogo. É nota zero em sordidez, fisiologismo e sujeira
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emFisiologismo. A definição, em linhas gerais, é de quando um político usa seu status com o objetivo de fazer barganhas para benefício próprio ou de terceiros, mas a despeito do interesse republicano da sociedade. Quem, no entanto, mais sabe explicar essa disciplina são os próprios agentes políticos. Nisso, são nota 10.
Mas, para o bem da sociedade, nem todos eles conseguem se sair bem no teste do fisiologismo. E ao que parece, o deputado distrital novato Rodrigo Delmasso (PTN), deve chegar ao final do mandato de recuperação. Ou, pior (melhor, neste caso): reprovado.
“Não estou na política para fazer negócio. Meu mandato não é balcão. É balcão, mas (se for) para atender as pessoas”, diz. Delmasso é bem articulado. E demonstrou isso na entrevista que concedeu a Notibras, como convidado para almoço no Mercado 153, um requintado restaurante da Asa Norte.
Sua veia de bom articulador, porém, já pôde ser vista dentro da Câmara Legislativa. Tem canal aberto com a bancada evangélica e principalmente no bloco partidário que reúne cinco legendas, do qual é líder.
Antes mesmo de assumir seu mandato na Câmara Legislativa, sua retórica conquistou um número importante para o PTN. Em setembro de 2013, quando foi alçado ao posto de presidente regional, a legenda tinha apenas 64 filiados. Em um ano e meio, o deputado multiplicou esse número por 23. Atualmente são aproximadamente 1 mil 500 pessoas ligadas à sigla.
Além desses filiados, Delmasso tem o respaldo de mais de 20 mil eleitores. Esse foi o número que conquistou nas eleições de 2014. E de lá paca cá, tem procurado fazer jus a boa votação. Logo no início deste ano, o parlamentar visitou vários hospitais e unidades de saúde do DF.
Cristão – ele é pastor da igreja Sara Nossa Terra -, o trabalhista não percorreu, durante essas visitas, o mesmo caminho que Jesus Cristo fez a Golgota. Mas pôde identificar as chicotadas que a população do DF tem recebido de seus governos na saúde pública.
“Eu não fiz a visita aos hospitais visando a CPI da Saúde. Uma coisa é você ler em jornais, portais de notícias, assistir na televisão. Outra, é você ir lá ver. Nós temos excelentes profissionais. Eles são heróis. O problema é que a categoria está desmotivada porque chega ao local de trabalho, não tem bisturi, não tem dipirona.Temos orçamento de 2 bilhões de reais para a saúde e mesmo assim os problemas persistem. O problema é de gestão”, revela.
Todas as informações que o deputado tem sobre a situação da saúde pública, ele conseguiu com o Tribunal de Contas do Distrito Federal e com as costumeiras visitas a hospitais, UPAs e postos de saúde. Em julho, a intenção é voltar aos hospitais. Além disso, esse dossiê poderá fomentar uma possível comissão para investigar os desmandos na área.
Apesar de estar no primeiro mandato, Delmasso não deixa de ser experiente. Principalmente no Executivo. Já trabalhou na Secretaria do Trabalho no governo de José Roberto Arruda. Também atuou na Secretaria do Meio Ambiente na gestão de Agnelo Queiroz.
Essas experiências podem ter incentivado Rodrigo Rollemberg a procurá-lo para atuar no primeiro escalão. Convite, porém, recusado. “Até porque – afirma Delmasso – fui eleito para o Legislativo e não poderia atrair a confiança dos meus eleitores”. O distrital também se sente a vontade para analisar os governos.
“Não dá para comparar (o início) dos governos de Agnelo e Rollemberg. São momentos extremamente diferentes. Com o petista tivemos uma crise política. Com Rollemberg, a crise é financeira. Acredito que para os políticos, Agnelo conseguiu governar. Faltou governar para o povo”, enfatiza, acrescentando que, ao contrário, Rollemberg deverá atender aos dois lados.
Não é a rejeição do convite para o Executivo que impede Delmasso e o PTN de ajudar o Palácio do Buriti. Ele afirma convicto do seu apoio acentuando que tem atuado com o governo em cima das convergências.
“Só tivemos uma divergência pontual”, observa. E emenda: “Acreditamos que existem outras formas de irrigar os cofres do GDF. Um exemplo é combatendo a sonegação fiscal”. Outra forma é o enxugamento da máquina, segundo entendimento do parlamentar.
Governista que é, o deputado elogia medidas e integrantes do GDF. Sobre o Refiz, por exemplo, ele destaca que “é uma sinalização de que o governo está buscando saídas para tirar Brasília desse buraco financeiro”.
E em relação ao secretário da Casa Ciivil Hélio Doyle, nome mais poderoso do primeiro escalão, Delmasso é só afagos:“Eu o acho um dos profissionais mais bem preparados neste governo. Muita gente, até por sua forma de agir e por ser uma pessoa retraída, o julgam mal, mas ele é uma pessoa extremamente bem preparada”, garante.
Neste último sábado, o deputado participou de uma caminhada no Parque da Cidade em comemoração ao Dia Mundial da Epilepsia. O dinheiro para realizar o evento, ele faz questão de frisar: saiu do próprio bolso. “Invisto meu salário no meu mandato”.
A caminhada com esse respectivo tema é apenas um dos atos de Delmasso contra esse mal. Um dos seus principais projetos refere-se a liberação do canabidiol para tratamento da epilepsia. No Distrito Federal, segundo ele, existem entre 45 e 50 mil pessoas com a doença.
Nem tudo, entretanto, é um cenário otimista para Delmasso. Ele sabe que está no meio de lobos. Algumas vezes na pele de cordeiro, outras não. E deve ser por isso que em determinados momentos deixa escapar sinais de irritação: “É por causa da sujeira. Sou transparente. Não uso armas sórdidas para crescer. Cresço com o meu trabalho. Saio de casa às 7h30 e chego às 23h. Mas durmo às 2h, elaborando projetos de lei”.
Num enredo político já conhecido da sociedade, o deputado Rodrigo Delmasso sabe que terá muito o que aprender para chegar ao final do mandato como a exceção da regra. Mas em algumas disciplinas ele quer se reprovado. E diz quais: “Jogo sujo, sordidez e ciumeira”.
Elton Santos – participou Rebeca Seabra