Feijoada e show para os 25 anos do museu da Memória Candanga
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emLogo na entrada, as sete casas de madeira que formam a alameda histórica chamam a atenção pelas cores vibrantes no Núcleo Bandeirante. Ao redor, amplos gramados com árvores de mais de 40 anos e um pomar completam o cenário. “São poucos os lugares que preservam a nossa história desta forma. Os turistas se encantam”, comenta o funcionário do museu Ronaldo Medeiros.
Considerado o maior sítio de conservação da época da construção de Brasília, com 184 mil metros quadrados de área, o Museu Vivo da Memória Candanga revela-se mais que um espaço de preservação: é uma homenagem aos trabalhadores vindos de diferentes partes do Brasil para ganhar a vida. A diretora do local, Rosane Stuckert, afirma: “Aqui a população pode ver a história da capital”.
O conjunto arquitetônico completará 25 anos no domingo (26), cinco dias após o 55º aniversário de Brasília. A história, no entanto, começou antes de a capital ser inaugurada. Localizada na antiga Cidade Livre, a instalação que atualmente abriga o museu foi ocupada em 1957. Lá, funcionava o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, erguido em 60 dias para atender operários da época.
Em 1974, a área foi desativada e tomada por barracos. “Cogitaram demolir o lugar, mas a comunidade se mobilizou para preservar a memória”, explica o funcionário. Em 1985, o local foi tombado e restaurado pelo governo do Distrito Federal — os barracos foram retirados e as construções de madeira ganharam cores. Em 1990, finalmente, foi concebido o Museu Vivo da Memória Candanga.
Em março deste ano, o espaço foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Ter esse reconhecimento foi uma vitória. Esperamos que assim ele seja cada vez mais bem preservado”, comenta a diretora. Atualmente, o museu recebe cerca de 15 mil visitantes ao ano.
Durante todo o ano letivo, alunos de escolas públicas e privadas são guiados em uma visita de pouco mais de duas horas que faz parte do programa educacional Viva o Museu. O passeio começa com a exibição de um filme histórico de 16 minutos. Os jovens seguem para a galeria principal, onde a exposição permanente Poeira, Lona e Concreto narra a história de Brasília por meio de fotos, objetos e ambientações fidedignas de lugares como o Brasília Palace Hotel e o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira. “Temos a cadeira em que o presidente JK sentava na barbearia, a estufa de esterilização do hospital e câmeras antigas”, destaca Medeiros.
Uma das ambientações remete às cantinas da época. “As crianças adoram ver os utensílios.” Em um dos cantos, há malas referentes à chegada dos primeiros trabalhadores que moravam no Núcleo Bandeirante. “Brasília era um lugar que oferecia empregos a quem chegasse. Para muitos, a mala também era a casa”, afirma Medeiros. Ao lado dos objetos, imagens de candangos dormindo dentro das malas provam a história. Mais da metade das fotos foi feita pelo primeiro fotógrafo oficial de Brasília, Mário Moreira Fontenelle.
Ao longo da visitação, os estudantes também conhecem a Casa do Mestre Popular, que guarda o acervo do artista maranhense radicado em Brasília Mestre Pedro (1920-2005), autor de esculturas ligadas ao Cerrado. Ao fim do passeio, os funcionários fazem jogos da memória com as crianças para reforçar o que foi visto durante a visita.
Grupos de até 45 pessoas interessadas em visitas guiadas podem fazer agendamento prévio. O espaço também é usado livremente para passeios de bicicleta, piquenique, pesquisa e contemplação da natureza.
Além das construções icônicas da época dos candangos, tradições culturais artísticas são preservadas por meio das Oficinas do Saber Fazer. Papel, marcenaria, cerâmica, tecelagem e gravura são algumas opções. “É uma forma de manter a população presente no museu e disseminar a cultura artística dos candangos”, ressalta Medeiros.
A programação é variada e todo semestre há oferta de cursos gratuitos. “Temos alunos de todos os perfis, profissões e idades”, afirma a professora de gravura Eliana Leonir. Ela decidiu se dedicar à arte quando se aposentou.
Professor da oficina de cerâmica do museu há 15 anos, José Nicodemos Façanha recebe até 15 alunos diariamente. Há turmas de iniciante a avançado. “Eles mesmos produzem os instrumentos para fazer a cerâmica com grampos de cabelo, pedaços de madeira”, explica Façanha. “Depois que eles aprendem algo novo, é notório como ficam ansiosos para praticar e satisfeitos ao fazer.”
O aposentado Esdras Cardoso Soares, morador do Guará, é aluno da oficina há três anos. “O ambiente é incrível, estou aqui quase todos os dias. Se não estiver na aula, estou no ateliê.” Ele conta que começou na marcenaria, se encantou pela argila e hoje é monitor nas aulas dos colegas iniciantes.
O vigia noturno Manoel Lima é aluno da oficina de marcenaria desde o início do ano. “Da modelagem de uma madeira bruta, criamos coisas novas. É a mágica da transformação”, emociona-se. Morador de Águas Lindas, Lima é um dos alunos que busca a profissionalização, mas lamenta a desvalorização do trabalho. “A concorrência com a indústria é desleal”, afirma. Mesmo com as dificuldades, ele passa as tardes no museu praticando e, entre uma peça e outra, agradece a oportunidade de aprender um novo ofício. “Todo mundo tem a arte dentro de si.”
Para comemorar os 25 anos do museu, a diretoria promoverá, no sábado (25), um dia cheio de atividades abertas ao público. Haverá apresentações musicais, exposição de carros antigos, artesanato, oficinas gratuitas e feijoada beneficente. O evento começa às 10 e termina às 16 horas. Interessados em participar das oficinas devem fazer a inscrição no mesmo dia.
Viva o Museu Vivo! — 25 anos
25 de abril
Das 10 às 16 horas
Museu Vivo da Memória Candanga
Via EPIA Sul, SPMS, Lote D, Núcleo Bandeirante
Gratuito e aberto ao públicoVenda antecipada para a feijoada: R$ 20
(61) 3301-3590 / 3227-4405
mvmc1990@gmail.comHorário de funcionamento
De segunda a sábado, das 9 às 17 horas
Gabriela Moll, Agência Brasília