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Clima de revolta marca enterro de mototaxistas mortos na Zona Norte

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Foram sepultados na tarde deste sábado (16), no cemitério do Catumbi, os corpos dos mototaxistas Rodrigo Marques Lourenço, de 29 anos, e Ramon de Moura Oliveira, 22, encontrados mortos no alto do Morro do São Carlos.Sob clima de revolta, cerca de 150 pessoas foram ao local. Muitos mototaxistas homenagearam as vítimas e jogaram pétalas sobre os caixões e realizaram um buzinaço.

Após o enterro, cerca de 100 mototaxistas foram até o Palácio Guanabara, sede do governo estadual, e pediram justiça. O grupo deixou coletes usados pelas vítimas no trabalho e fizeram um minuto de silêncio.

Vizinha de Ramon, um mulher que preferiu não se identificar, elogiou o comportamento do jovem. “Vi o Ramon nascer, ele era um menino muito tranquilo, só queria trabalhar para poder sustentar o filho. O menino não para de perguntar do pai, eles eram muito próximos”, afirmou.

Um mototaxista amigos das vítimas também lamentou. “É muita covardia fazer isso com trabalhadores. Nenhum deles tinha envolvimento com o tráfico. Eram amigos, saíam juntos”, disse.

“O estado é mole, não resolve nada, apenas mata o cidadão de bem e joga o corpo no mato como um porco, um lixo”, desabafou Renata Marques, irmã de Rodrigo.

De acordo com ela, o laudo do Instituto Médico Legal aponta que o rapaz foi morto por tiros na cabeça. “Muita gente viu que foi o Bope quem matou meu irmão, mas as pessoas não têm coragem de dizer por mede de sofrer represálias”, contou. Renata afirmou que vai a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) na segunda-feira, ao lado da mãe, buscar ajuda para que o crime seja investigado.

“Meu irmão era um menino engraçado, criança grande, adorava fazer piadas. Na semana que vem ele ia fazer curso de pintura de navios, que era o sonho da vida dele. Já estava tudo certo. Agora ele foi embora e deixou um filho”, disse.

Guerra na região central do Rio já contabiliza 14 pessoas mortas

A guerra entre facções rivais no Complexo de São Carlos, no Estácio, que tem UPP, teve outro capítulo sangrento ontem, quando a disputa nas comunidades da região central da cidade completou uma semana e contabilizou mais quatro vítimas. No total, 14 pessoas já morreram e seis ficaram feridas. Depois de localizar os corpos de dois mototaxistas em uma área de difícil acesso, moradores desceram para o asfalto e fecharam as principais vias em protesto. Dois ônibus foram incendiados e a população entrou em confronto com a polícia, a quem atribui as mortes. As tropas de elite da Polícia Militar ocuparam a região por tempo indeterminado.

Segundo os manifestantes, as vítimas foram mortas a facadas, anteontem, em operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ao chegar ao local para perícia, agentes da Delegacia de Homicídios (DH) disseram ter recebido informações de que as vítimas teriam sido atingidas por tiros. A PM abriu inquérito para apurar a operação do Bope.

Familiares contaram que PMs os impediram de se aproximar e alegam que os mototaxistas teriam sido abordados e executados por policiais em represália, já que, na terça-feira, um ‘caveira’ do Bope foi baleado.

Irmão de Rodrigo, Thiago Marques, 30, contou que a família passou a madrugada procurando o rapaz. Há dez anos, após se casar, ele deixou o São Carlos e foi morar em Campo Grande, mas continuou trabalhando na favela. Rodrigo tinha um filho de 3 anos. “Minha mãe ligou a madrugada toda para ele. Pela manhã, vizinhos contaram que policiais os abordaram e eles sumiram.”

O tio de Ramon, o eletricista Carlos Alberto Brandão, comentou que o sobrinho começou a trabalhar como mototaxista assim que tirou a habilitação, aos 18 anos. “O corpo dele está jogado no mato. Acham que morador é bandido”, desabafou.

A PM confirmou que o Bope fez operações no São Carlos quinta-feira e dois homens morreram na ação. Um adolescente foi baleado na comunidade do Querosene e morreu no hospital. Já Ysmailon da Luz Alves Santos, 21, não resistiu a um tiro no peito.

‘Quem queima ônibus é bandido’, afirma Pezão

Às 8h, cinco homens encapuzados fizeram com que o motorista da linha 229 (Usina – Castelo) parasse na Av. Estácio de Sá. Sessenta passageiros foram obrigados a sair do coletivo, que foi incendiado.

Antes, porém, o dinheiro das passagens foi roubado. O outro ataque aconteceu na Rua Campos da Paz, no Rio Cumprido. Segundo testemunhas, uma retroescavadeira foi usada para interromper o trânsito, enquanto o ônibus 202 (Rio Comprido – Praça XV) era queimado.

À noite, novo confronto entre manifestantes e PMs parou a Rua Maia Lacerda. O comércio fechou e moradores jogaram pedras nos agentes do Batalhão de Choque, que atiraram bombas de efeito moral. Um cinegrafista do SBT foi atingido na perna por estilhaço de bomba. Trabalhadores que voltavam para casa tiveram que subir o morro a pé, desviando do confronto e dos fios de alta tensão caídos nas ruas. Enquanto isso, criminosos teriam fugido por outras ruas, segundo relatos de testemunhas.

O governador Luiz Fernando Pezão reagiu: “Trabalhador não queima ônibus. Quem queima ônibus é bandido”. Ele ressaltou que os investimentos em segurança continuarão. “O cidadão de bem quer a polícia por perto, quer paz”. A Rio Ônibus repudiou os ataques e informou que outros dois ônibus foram apedrejados. Este ano, sete veículos foram incendiados, e em um ano, 19. O valor de reposição já soma R$ 3 milhões.

Fu: R$ 10 mil por informação

Para policiais, os confrontos no São Carlos começaram após o traficante Ricardo Chaves da Costa Lima, o Fu da Mineira, ter retornado para a região e tentar recuperar os pontos de venda de drogas que comandava. Ele saiu da cadeia para visitar a família, em 2013, e não voltou.

O Disque-Denúncia (2253-1177) aumentou para R$ 10 mil a recompensa por informações que levem a prisão do criminoso. Outro traficante da mesma quadrilha, Cláudio José de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, que fugiu com o comparsa, também teve o valor aumentado. Semana passada, o rival de Fú, Celso Pinheiro Pimenta, o Playboy, teria enviado reforço de comparsas para ‘defender’ o território da tentativa de invasão.

O assessor da Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), major Ivan Blaz, contou que a área de maior risco da região é o Morro da Coroa. “É o alvo do Fú da Mineira. É uma área de acesso a todas as outras comunidades.”

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