Guardas municipais usam bala de borracha na Vila Autódromo
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emA Vila Autódromo fica em Jacarepaguá, vizinha à futura Vila Olímpica, onde serão disputadas competições das Olimpíadas de 2016. A situação ficou tensa a partir das 8h da manhã, quando equipes da prefeitura chegaram ao local, com um trator, para demolir a casa onde mora a família do motorista Ocimar da Silva Miranda. Além dele, outras quatro pessoas dividem a casa, de 60 metros quadrados: o sogro, a esposa e duas filhas pequenas. A prefeitura ofereceu R$ 122 mil pelo imóvel, valor que Ocimar considera baixo, pois dificilmente poderá comprar outra moradia, em lugar próximo, pelo mesmo preço.
“A violência veio do lado da prefeitura, que queria nos tirar à força. Não teve nenhuma negociação, não teve aviso prévio. Vieram automaticamente. É assim que funciona a democracia no país? É assim que o prefeito [Eduardo Paes] diz que e está fazendo negociação transparente. Eu quero uma indenização justa”, desabafou Ocimar, ainda bastante nervoso.
O sogro de Ocimar acabou machucado na cabeça, por um golpe de cassetete dos guardas municipais. O presidente da associação de moradores, Altair Antunes Guimarães, mostrava na palma das mãos diversas balas de borracha disparadas pelos guardas. “Isto aqui foi o que recebemos da Guarda Municipal”.
O padre Fábio Guimarães, da paróquia local, estava atuando como mediador do conflito e disse que a violência partiu dos guardas municipais. “A partir do momento em que você avança com escudos empurrando o morador, não tem como esperar que não venha uma resposta de violência. O que eu posso dizer é que a primeira pedra foi lançada depois da primeira pancada de cassetete”, relatou o padre, que está na comunidade há dois anos e meio.
A Anistia Internacional divulgou nota condenando a atuação da Guarda Municipal na Vila Autódromo. Segundo a entidade, “a ação foi marcada pela violência contra os residentes e membros da associação de moradores, com uso desnecessário da força e de armas menos letais, como balas de borracha e gás pimenta”. Em 2013, a Anistia lançou campanha contra as remoções forçadas no Rio na preparação para os megaeventos esportivos, como a Copa de 2014 e as Olimpíadas.
A prefeitura do Rio sustentou, em nota, que a Guarda Municipal agiu para proteger o oficial de Justiça de objetos lançados pelos moradores: “A Secretaria da Ordem Pública (Seop) deu apoio à decisão judicial de imissão de posse favorável à prefeitura, que previa demolição de duas casas na Vila Autódromo, situadas à rua Francisco Landy 39 e rua Beira Rio 4. A operação começou pela manhã (9h), na presença de um oficial de justiça. No momento em que o oficial de Justiça autorizou a demolição, moradores começaram a lançar pedras, paus e tijolos contra os servidores. A Guarda Municipal atuou para dispersar o tumulto e proteger os trabalhadores da prefeitura. Quatro guardas ficaram feridos.”
Das 450 famílias originais da Vila Autódromo, segundo o presidente da associação, atualmente permanecem 150. A maioria aceita sair, desde que por uma quantia maior ou em troca de outro lugar para morar. Algumas, no entanto, não têm interesse em deixar o lugar, onde, segundo alegam, moram há décadas.
Vladimir Platonow, ABr