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Al-Anon se reúne em Brasília para combater a ‘doença da família’

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Comemorando 40 anos de existência, o grupo Al-Anon (Alcoólicos Anônimos) está reunido neste final de semana em Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal, para discutir o tema “Alcoolismo, a Doença da Família”. O movimento foi criado por mulheres de alcoólicos para apoiar parentes e amigos de pessoas viciadas em álcool. A reunião ocorre simultaneamente ao Encontro Anual do Alcoólicos Anônimos do DF.

Doença que pode deixar sequelas por toda a vida, o alcoolismo marca não só quem bebe, mas toda uma família. “Eu tinha revolta contra o meu pai e não queria ser igual a ele, queria ser pior do que ele”, relembra a estudante de psicologia Magali*, 45 anos, filha de pai alcoólico. Ela também adquiriu o vício.

Em recuperação, há 4 anos sem beber, Magali conta que começou a ingerir álcool aos 11, pegando bebidas do pai em casa, e que, aos 12, começou a usar drogas. “Eu não tinha amigos no colégio e me escondia”. Na faculdade de enfermagem, ela conta que só conseguia frequentar as aulas sob efeito do álcool, e que, depois de formada, trabalhou muitas vezes alcoolizada. “Tinha dia que eu não conseguia pegar uma veia do paciente se não tivesse bebido, tremia tudo, eu precisava beber”, relembra.

Magali desabafa que hoje se sente livre. “Eu não conseguia fazer planos, era tudo naquele momento. Hoje não tenho marido, filhos, vivi a vida toda com a minha mãe, que só conseguia orar por mim. Fiquei com efeitos no corpo e na alma. Eu poderia ser uma pessoa melhor hoje. Tem muita coisa que eu queria ter feito e só agora vejo que eu tirei a oportunidade de mim mesma”, lamenta a estudante. Ela, depois de entrar para o Alcoólicos Anônimos (AA), em 2011, não voltou a ingerir bebida alcoólica.

Hortência*, membro do Al-Anon, programa de apoio a familiares e amigos de alcoólicos, conta que é muito comum os filhos de bebedores seguirem o mesmo vício. “Geralmente, o filho que mais odeia o alcoolismo do pai é o que terá problemas com álcool se não buscar ajuda antes”.

Segundo Arlete*, coordenadora do Al-Anon no Distrito Federal, no grupo as pessoas veem que o alcoolismo é uma doença que atinge toda a família, e que os membros precisam seguir suas vidas, apesar da doença. “Nas reuniões eles vão aprender a conviver com isso. A esposa desesperada vai aprender, por exemplo, que não adianta brigar com o alcoólico na hora que ele chega em casa bêbado, porque ele não vai nem lembrar no outro dia”.

Frequentadora do Al-Anon desde há 16 anos, Maria * é filha e esposa de alcoólico. “Com meu pai eu via que precisava de segurança, mas ele não cuidava nem dele mesmo. Eu acabei ficando muito tímida, reservada, mas sempre queria ser a melhor filha e aluna do mundo para não dar motivos de ele ficar agressivo”, relembra Maria, que começou a perceber que seu pai tinha um comportamento inadequado quando ela tinha 5 anos.

Ela conta que não tinha amigas, não levava colegas em casa e hoje vê que era para tentar esconder o problema. “Ele era duas pessoas, uma muito preocupada com os estudos dos filhos, outra agressiva e sem controle, dominada pela bebida”. Dos cinco irmãos, Maria conta que hoje três sofrem com o alcoolismo, mas ela não bebe.

Já com seis anos de casada, Maria diz que começou a perceber que o marido também tinha o mesmo problema. “No começo ele bebia, mas eu não achava nada demais, era só em festa, ficava alegre, nada que me alertasse. Com mais ou menos seis anos de casamento, ele começou a não voltar para casa, batia o carro com muita frequência e eu comecei a me preocupar”.

Em 1999, no pior período do seu casamento,, quando os filhos eram adolescentes, Maria diz que procurou o Al-Anon. No ano seguinte, o pai buscou o AA e deixou de beber, e, em seguida, em 2003, o marido também se tornou um alcoólico em recuperação. Hoje, ela conta que a relação com os dois é muito boa e que conseguiu superar o alcoolismo, mas só porque todos reconheceram o problema.

O psicólogo João Bezerra, amigo do AA, explica que o primeiro passo para a recuperação é admitir o problema. No caso do usuário, ele precisa reconhecer que é viciado, no caso da família, deve perceber que não pode lidar sozinha com a situação. “Nestes grupos, a experiência de um vai enriquecendo a experiência do outro e a gente sempre lembra que dois ingredientes não podem faltar nessa busca: amor e perdão”.

Mateus, estudante de 18 anos, também é filho de pai alcoólico. “Desde criancinha eu ia ao o AA e aos 11 anos comecei a frequentar o Al-Anon”. Quando Mateus nasceu, seu pai já não bebia mais, mas ele conta que percebia a ameaça velada de o problema voltar. “Eu não bebo, já que acredito que o alcoolismo é hereditário, prefiro não dar o primeiro gole”.

*Os grupos Al-Anon e AA pedem que seus integrantes sejam citados apenas pelo primeiro nome.

Aline Leal, ABr

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