Celina Leão chora, Hélio Doyle fica e RR chama PDT para uma conversa
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emA Leoa chorou. Foi nesta segunda-feira 8, no gabinete da presidência da Câmara Legislativa. Traída pela emoção, Celina Leão deixou que lágrimas inundassem sua face. Não foi um choro de mágoa, rancor ou ressentimento. O ato de chorar foi motivado pela perspectiva do fracasso da passagem de Rodrigo Rollemberg pelo Palácio do Buriti, em quem a deputada pedetista apostou todas as fichas ainda na campanha eleitoral.
Desde o rompimento público com Rollemberg, na semana passada, Celina se mostra emocionalmente abalada. Ela preserva nomes ao criticar a administração do governo socialista, mas sustenta, com olhar vago, que algo tem desandado na Casa Civil, sob o comando do jornalista Hélio Doyle. Ali reside o maior problema. São petistas acastelados desde a época de Agnelo Queiroz, que Celina combateu como quem quer exterminar pragas que ameaçam um projeto político.
As lágrimas de Celina Leão irromperam durante entrevista a Notibras. A Redação soltou um flash no final da tarde, antecipando detalhes da conversa. Foi o suficiente para que o clima político ganhasse ares de dramaticidade no começo da noite, a ponto de Rodrigo Rollemberg reiterar que Hélio Doyle continua merecendo toda a sua confiança.
O governador, porém, foi mais além. Convidou a cúpula do PDT – partido da presidente da Câmara – para uma conversa. O encontro será na noite desta terça, 9, no Palácio do Buriti. Os senadores Cristovam Buarque e Antônio Reguffe, bem como Georges Michel, presidente da legenda, confirmaram presença. A ordem é resgatar o diálogo perdido em meio a curtos-circuitos muitas vezes provocados pela própria equipe palaciana.
Reguffe, conciliador, considera uma injustiça, “diria mesmo uma maldade”, querer responsabilizar Hélio Doyle pelas agruras do governo. “Hélio Doyle é uma pessoa de bem, correta e trabalhadora. Se o governo, como dizem, está uma porcaria, outras pessoas devem ser crucificadas, e não o chefe da Casa Civil” sentenciou o senador a Notibras, sublinhando que “como pessoa justa, quero render minha homenagem” a ele (Doyle).
Quem também saiu em defesa de Hélio Doyle foi o publicitário Marcello Oliveira, da Plá Comunicação. Os dois são amigos de velha data, a ponto de Marcellão – como é conhecido no meio publicitário – testemunhar “a competência, a probidade e o caráter” do chefe da Casa Civil. Na avaliação do diretor da Plá, toda essa crise é ‘freio de arrumação’ de começo de governo.
Na condição de amigo não apenas de Hélio Doyle, como também de Celina Leão, Marcello Oliveira se propõe, se necessário, promover a conciliação provocada por um suposto rompimento entre os dois. Ele entende que cargos confiados ao PT não são motivo de cizânia, uma vez que, diz, a legenda que esteve comandando Brasília nos últimos quatro anos “tem bons quadros, e o momento é de união para resgatar a imagem de Brasília como cidade-exemplo para todo o País”.
A realidade é que com o rompimento de Celina com Rollemberg, veio à tona uma crise institucional de elevada envergadura, fruto de divisões de grupos políticos que se acreditam em condições de resolverem, cada um a seu modo, os problemas herdados do ex-governador Agnelo Queiroz. Mas as divergências, como pregam o senador Antônio Reguffe e o publicitário Marcello Oliveira, devem ser deixadas de lado, porque Brasília está acima de qualquer partido e de interesses pessoais.
Quando afirma, como tem repetido nos últimos dias, que não abre mão da colaboração de Hélio Doyle, Rodrigo Rollemberg por certo sabe o que está dizendo. Afinal, a experiência acumulada pelo governador é a de um legislador, a ponto de admitir em conversas reservadas que tem dificuldade em produzir uma agenda positiva. A esse respeito, um atento observador político lembra que se a greve dos rodoviários e as bactérias hospitalares estão atingindo o coração do governo, com certeza esse governo morre se perder uma figura da expressão do chefe da Casa Civil.
Resta dizer que as lágrimas de Celina não são sinônimo de fraqueza, mas de quem, tenaz, procura corresponder à expectativa criada pelo eleitor, que viu em Rollemberg um governante capaz, responsável por colocar Brasília nos trilhos, e não o velho novo caminho que afundou na lama.
Sobre a entrevista, o assunto abordado pode ficar para depois, pois está sempre atual. Para aguçar a curiosidade dos internautas, basta dizer que aumentar impostos nem sempre é a solução para caixas vazios. “Há outras alternativas”, afirma a presidente da Câmara Legislativa. Entretanto, como os temas suscitados envolvem mais o Executivo e menos o Legislativo, é melhor deixar a poeira assentar e torcer para que a paz reine. De preferência, com as bênçãos da sociedade.
José Seabra