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Washington, Quito e Bogotá vão cortar os tentáculos da Odebrecht

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A Odebrecht, investigada por corrupção no Brasil, está no olho do furacão também no exterior. É o que afirma reportagens do jornal O Estado de S.Paulo, nesta quarta-feira, 22. As investigações indicam que a construtora foi favorecida em alguns países nos mandatos de Lula.

Telegramas confidenciais do Departamento de Estado americano revelados pelo grupo WikiLeaks relatam ações da empresa brasileira e suas relações com governantes estrangeiros. Lula é citado em iniciativas para defender os interesses da Odebrecht no exterior.

Em 21 de outubro de 2008, diz o Estadão, a embaixada americana em Quito descreve a pressão imposta sobre as empresas brasileiras pelo presidente daquele país, Rafael Correa. O governo equatoriano ameaçava expulsar Odebrecht e Petrobras, alegando descumprimento de contratos.

A embaixada, porém, alerta ao Departamento de Estado dos EUA que o motivo da pressão seria outro: corrupção. “Alfredo Vera, chefe da Secretaria Anticorrupção do Equador, levantou questões sobre os preços e financiamento dos contratos da Odebrecht”, indicou o telegrama.

“Apesar de não termos informações de bastidores no projeto San Francisco (usina), o posto ouviu alegações com credibilidade de corrupção envolvendo o projeto de irrigação da Odebrecht em Manabi de um ex-ministro de Finanças que se recusou a assinar os documentos do projeto diante de suas preocupações sobre a corrupção”, afirmaram os EUA.

Outro alerta se referia às condições do empréstimo do BNDES ao mesmo projeto. “O posto também ouviu preocupações de um funcionário do Banco Central sobre termos desfavoráveis nos empréstimos do BNDES que apoiariam o projeto de irrigação”, diz o telegrama.

Segundo os EUA, ambos os problemas teriam ocorrido em 2006, no último ano do governo de Alfredo Palácio. “Apesar de não termos a história completa da ira de Correa contra a Odebrecht, suspeitamos que a corrupção e a pobre construção da empresa amplamente devem explicar suas ações (em relação a Correa)”, indicou a diplomacia.

Enquanto o governo colombiano ameaça impedir a Odebrecht de firmar contratos com o país caso seus dirigentes sejam condenados na Operação Lava Jato, o governo do Equador anunciou que as obras executadas pela empreiteira brasileira em seu território, como hidrelétrica e projetos de refinaria, vão passar por auditoria para apurar irregularidades. No Peru, promotores planejam visitar o Brasil para verificar evidências de pagamento de propina em projeto de uma rodovia transcontinental.

O vice-presidente da Colômbia, Germán Vargas Lleras, declarou em junho que a Odebrecht poderia ser impedida de participar de editais públicos por um período de 20 anos se ficar provado que a empresa praticou atos ilícitos em contratos com a Petrobras.

O controlador-geral do Equador, Carlos Pólit, afirmou que fará ainda uma investigação dos cerca de 40 funcionários equatorianos responsáveis pelos contratos públicos com a Odebrecht.

A empresa declarou que a Colômbia e o Equador conduzem “auditorias de rotina” dos contratos e que não há investigação formal nos dois países. Já a Advocacia-Geral do Panamá informou que, “até o momento”, não investiga os negócios do país com a empreiteira, mas que já recebeu pedido de colaboração do Ministério Público Federal do Brasil.

A relação entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a empreiteira Odebrecht e o governo da Venezuela também foi alvo de um exame por parte da diplomacia norte-americana.

Um telegrama enviado pela embaixada dos EUA em Caracas para o Departamento de Estado em 7 de dezembro de 2006 fala sobre como o apoio de Lula à campanha para a reeleição de Hugo Chávez “poderia parecer um passo diplomático errado, mas realmente foi simplesmente um bom negócio”.

O apoio de Lula ocorreu durante a inauguração da segunda ponte sobre o rio Orinoco, ligando os dois países naquele ano. Mas estaria ligado a licitações vencidas pela empresa brasileira. “A ponte foi construída pela empresa de construção brasileira Odebrecht e financiada pelo banco de desenvolvimento do Brasil, BNDES”, diz o telegrama. “Supostamente, ela custou à Venezuela entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,2 bilhão (supostamente 40% acima do orçamento) e planos já existem para uma ponte número 3”, indicou.

“Apesar de a Odebrecht ter também ‘vencido’ o contrato para a 3ª ponte, pelo que sabemos não houve um processo de licitação”, indicam os americanos. No mesmo e-mail, a diplomacia dos EUA aponta como a Odebrecht também é a principal empresa nas obras das linhas 3 e 4 do metrô de Caracas.

Em 13 de novembro de 2007, outro telegrama voltava a falar das relações entre a Odebrecht e a diplomacia venezuelana. Desta vez, o alerta havia partido do então senador Heráclito Fortes, ex-DEM e atualmente deputado pelo PSB do Piauí. No dia 5 de novembro, ele telefonou para o embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel, para pedir para ter uma conversa “ao vivo” com o diplomata. “Ele pediu um encontro urgente para levantar um assunto que ele não poderia falar pelo telefone”, explicou o telegrama.

O assunto era a relação entre Venezuela, Irã, Rússia e o governo brasileiro. Fortes explicaria no encontro com o embaixador que “a diplomacia oficial venezuelana é cada vez mais comercial, com enormes contratos para empresas como a gigante brasileira Odebrecht, que então faria lobby pela Venezuela”.

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