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UnB reduz de 20% para 5 por cento cota de negros nos vestibulares

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A Universidade de Brasília (UnB) decidiu manter o sistema de cotas para negros. No próximo vestibular, a UnB reservará 27% das vagas para alunos de escolas públicas (cotas sociais) e 5% para estudantes negros. Até o último vestibular, eram reservadas 20% das vagas para negros. Atualmente, dos 35.785 alunos da universidade, 3.401 ingressaram pela política de cotas raciais. O edital deverá ser divulgado na semana que vem.

A UnB foi pioneira na política de cota, criada em 2003. O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da universidade votou pela manutenção do sistema. Foram 7 votos apenas pelas cotas sociais e 32 pela manutenção das cotas raciais.

Posteriormente,  os membros do conselho vão definir o prazo de validade da decisão.

“Evidentemente não estava em discussão o cumprimento da lei. A universidade vai cumprir a lei federal (Lei 12.711/12). Mas a UnB considera que, mais do que a lei, além do que está na lei, é preciso uma cota extra, digamos assim, para alunos negros sem nenhuma restrição social”, disse o reitor da UnB, Ivan Camargo. Para ingressar na universidade pelas cotas sociais, o estudante deve ter cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, o que não é pré-requisito para as cotas raciais.

Essa política começou a ser discutida após um caso de racismo na pós-graduação da UnB, no final da década de 90. O episódio foi presenciado pelo professor de antropologia José Jorge de Machado. Ele é um dos membros da comissão que propôs a continuidade das cotas raciais. “Para a UnB, a lei do governo tem retrocessos e tem exclusões. Vários dos estudantes negros que estão hoje na UnB não entrariam mais com a lei do governo”, afirmou o professor.

O objetivo das cotas não é uma compensação econômica. “As cotas mudam imagens, possibilidades profissionais, padrões culturais, dinâmica de espaços de poder, criam combinações intelectuais mediante a proximidade de pessoas antes apartadas, podendo inclusive gerar ideias e resoluções inéditas”, diz documento coletivo de membros das comunidades negra e indígena, assinado por centenas de pessoas e entidades.

De acordo com dados da UnB, o desempenho de alunos cotistas e não cotistas é semelhante, com diferenças de décimos na média das notas. Em medicina, um aluno cotista tem desempenho de 4,1 e um não cotista, de 4,22. Em estatística, a média é 3,56 para cotistas e 3,7 para não cotistas. Também segundo a universidade, no Campus Darcy Ribeiro, em Brasília, 73% dos alunos negros não conseguiriam ingressar se não fosse pelas cotas. No campus da Ceilândia, no Distrito Federal, esse percentual é 58,3% e, no Gama, também no DF, 70% não ingressariam na UnB.

A cientista social Natália Maria Machado está entre esses estudantes. Ela entrou na universidade no ano de implementação das cotas. “Não teria entrado na universidade se não fosse por cotas, em tempo hábil para as minhas condições de vida. Não teria”, lembra Natália. “Pelas cotas, peguei a universidade num clima e atmosfera de discussão que propiciaram, apesar de todos os desafios, que eu entrasse em contato com as agendas políticas nacionais que dizem respeito à sobrevivência do meu povo e da sociedade, em geral, de forma digna, plural e inclusiva”.

As cotas serão aplicadas também no Programa de Avaliação Seriada (PAS) e nas vagas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que classifica os alunos pela nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Mariana Tokarnia, ABr

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