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Água ainda tem, mas especialistas admitem um colapso no fornecimento

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Apesar da situação grave dos reservatórios da Bacia do Paraíba do Sul, que abastece a região metropolitana do Rio de Janeiro, não deve faltar água até o próximo período chuvoso, no verão. Porém, os especialistas ouvidos pela Agência Brasil alertam que é preciso economizar água para o sistema não entrar em colapso em 2016.

Segundo dados do boletim diário da Agência Nacional de Águas (ANA), na última sexta-feira (28) o nível médio do sistema estava em 7,43% do volume útil, com a situação mais crítica em Paraibuna, o maior dos quatro reservatórios, que está com apenas 1,47%. Em agosto do ano passado, o sistema acusava 19,2%.

O diretor-geral do Comitê Guandu, Júlio Cesar Antunes, que participa do Grupo Técnico de Acompanhamento de Operação Hidráulica do Sistema Paraíba do Sul, disse que a gestão da água está sendo feita para evitar que se atinja o volume morto, que significa utilizar a água dos reservatórios que fica abaixo da capacidade de geração de energia elétrica pelas usinas, como está sendo feito em São Paulo desde o ano passado.

“A gente está fazendo adaptações em cada captação e acompanhando a parte de qualidade da água. Só vamos ter o cenário na mão depois do próximo período chuvoso, que ainda está um pouco distante. Como o Sudeste não tem uma matriz muito definida, a gente só vai ter certeza no verão. A bacia do Guandu, na região metropolitana do Rio de Janeiro, está sendo gerenciada para isso: não faltar água. A gente está aumentando o controle para garantir todo o processo”.

O pesquisador do Laboratório de Hidrologia do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ), Paulo Carneiro, alerta que o sistema pode entrar em colapso no próximo ano, caso seja necessário utilizar o volume morto.

“Desde que se opera o Paraíba do Sul com reservatórios, o que começou na década de 60, para garantir as vazões, nunca se chegou a este ponto. Isso dá a dimensão do que significa a crise. Para a região metropolitana, essa água que está sendo vertida também está abaixo. A última usina, que é a Pereira Passos, já no Rio Guandu, pela resolução da ANA, em condições normais, a vazão mínima é de 110m³/s. Hoje, a vazão de transporte é 75m³/s, então nós estamos operando em situações jamais vistas. Portanto, são situações desconhecidas, nunca se chegou a este ponto”, diz ele.

Destaca, a seguir, que o reservatório de Paraibuna tem um estoque de água muito grande [o volume morto representa 44,29% da capacidade], mas, se ele for utilizado, pode demorar até três anos para que se recupere, dependendo da quantidade de chuva.

Em Resende, no sul do estado, cidade próxima ao reservatório do Funil, que está com 9,92% do volume útil, alguns projetos já começaram a ser implantados para evitar problemas. O presidente da Agência de Meio Ambiente da cidade, Wilson Moura, disse que foi lançado o programa de Pagamento de Serviços Ambientais. Visa fomentar a recuperação de áreas de nascente e margens de rios. Mas, de acordo com ele, só isso não basta.

“Outra coisa importante é o tratamento dos efluentes. As indústrias são muito cobradas, mas os municípios também precisam investir no tratamento de efluentes, porque com menos água a capacidade de depuração também diminui, então o tratamento da água fica mais caro e mais difícil. Então, a gente precisa somar os esforços para economizar água, usar com bastante responsabilidade, cuidar das nossas nascentes, das nossas margens de rio, evitar jogar lixo, tratar os esgotos e rezar para chover, porque a gente está precisando de chuva”.

Além da economia de água pela população e de programas de longo prazo para a recuperação do solo e da cobertura vegetal, que contribuem para o armazenamento de água no subsolo, o pesquisador do Coppe-UFRJ ressalta a necessidade de melhoria no sistema de abastecimento, que, de acordo com ele, apresenta perdas superiores a 30%.

“Tem que melhorar o seu padrão de eficiência para perder menos água. No estado do Rio de Janeiro é acima de 30%, fica entre 30% e 40%. Programas de reuso e recirculação de água na indústria são importantes, já vêm sendo feitos, mas têm de ser intensificados. O consumo per capita no Rio de Janeiro também é muito alto. Na zona sul é superior a 500 litros por dia, é absurdamente alto, isso tudo tem que ser colocado em questão”.

De acordo com ele, no estado do Rio a indústria e o abastecimento humano consomem a mesma parcela dos recursos hídricos, enquanto a agricultura utiliza a menor parte.

Akemi Nitahara – ABr

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