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Filme sobre a vida de Elis Regina começa a receber retoques finais

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As gravações do filme que vai contar a história de Elis Regina nos cinemas foram concluídas semana passada. Com direção de Hugo Prata, Elis será vivida pela atriz Andréia Horta, em uma produção de R$ 8,4 milhões. As cenas foram captadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Paris. Agora na fase de montagem, a previsão de entrada em circuito é para o segundo semestre de 2016. A reportagem acompanhou um dia de gravações em um estúdio de São Paulo.

Prata diz que seu maior drama foi escolher o que entrar e o que ficar de fora no complexo quebra-cabeças que precisou montar para dar fluxo à narrativa, com algo em torno de duas horas de duração. Assim, fatos e personagens são sempre escolhas dramatúrgicas. “Eu não chamaria isso de licença poética. Só podemos trabalhar com o real, jamais inventar algo que não tenha acontecido, mas temos de fazer alguma adaptação para criarmos a curva dramática.”

Ele cita como exemplo o episódio em que Elis, em entrevista durante sua passagem pela Holanda, deixa escapar que seu país estava sendo governado àquela altura por um “bando de gorilas”, referindo-se ao alto escalão do regime militar. A menção custaria caro à cantora, que passaria a ser vigiada, sofreria pressão psicológica e, anos mais tarde, seria convocada para se apresentar nas Olimpíadas do Exército, algo de que a patrulha formada por jornalistas e intelectuais de esquerda custaria a perdoá-la. Na adaptação de Prata, essa declaração é dada na França.

“Só com fatos reais você não consegue. Eu não inventei nada, mas temos que fazer agrupamentos. Conversei com vários cineastas e o que ouvi foi ‘ao chegar a um certo momento, esqueça e faça sua história'”, diz o diretor, que também usou recursos sem compromissos estritos com a história nos episódios de separação entre Elis e os maridos Ronaldo Bôscoli e César Camargo Mariano.

O envolvimento da cantora com as drogas não será ignorado, como fez a produção Elis – A Musical, com direção de Dennis Carvalho. Não haverá cenas de consumo explícito, mas a ligação da cantora com a cocaína, algo que não durou dez meses finais de sua vida, será mencionada. “Não fiz imagens com ela mandando ver, mas as pessoas vão entender, vai ficar claro. Eu não fugi da raia, mas também não fui sensacionalista. Este é um episódio delicadíssimo.” Prata disse que sentiu como as pessoas ainda se enganam com relação ao rápido mergulho de Elis nas drogas. “Muita gente ainda não sabe que isso se deu apenas em seus últimos meses de vida.”

Uma das sequências mais fortes deve ser o momento em que Elis é encontrada desacordada pelo então namorado, o advogado Samuel MacDowell. Ele chega ao apartamento da Rua Mello Alves, nos Jardins, já pressentindo que algo de ruim aconteceu. Bate à porta, mas ela está trancada. Ele então passa a chutá-la e a forçá-la até conseguir abrir. Prata optou por não colocar João Marcello na cena.

Na vida real, o filho mais velho de Elis, então com 12 anos, correu para ver a mãe assim que Samuel conseguiu entrar no quarto, mas não viu o corpo. Ao pressentir que o garoto iria entrar no quarto, o advogado colocou o braço para impedi-lo. “Acho que, por um limite meu mesmo, preferi não colocar o João nesta cena. Achei que ela já era violenta demais”, diz Prata. As cenas foram todas feitas em um apartamento alugado no mesmo prédio da Mello Alves em que Elis morou no começo dos anos 1980.

O diretor conta que nada foi mais dolorido do que a escolha dos episódios. “Chega um momento em que você precisa deixar a Elis no (show do festival) Phono 73 ou na gravação de Elis e Tom. E eu deixei o Phono 73. Isso para que a história fosse adiante, desenvolvesse.” Ele diz que a emoção nos sets de filmagem foram frequentes, e que muitos atores foram às lágrimas nos momentos em que Elis aparecia cantando na interpretação de Andréia Horta.

estadao

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