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APP de paquera faz crescer casos de HIV, revela relatório do Unicef

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O aumento no uso de aplicativos de paquera é um dos principais fatores responsáveis por uma nova epidemia de HIV entre jovens homens gays, aponta um estudo do Unicef (braço das Nações Unidas para infância e juventude).

O foco da nova pesquisa, divulgada nesta semana, é a região da Ásia-Pacífico, que inclui países como China, Japão, Indonésia e Tailândia, além de nações da Oceania.

A conclusão é que a região – que concentra metade do 1,2 bilhão de adolescentes do mundo – enfrenta uma “epidemia oculta” de HIV entre jovens de 15 a 19 anos. Houve 50 mil novos casos nessa faixa etária em 2014, o que representa 15% das infecções registradas na região no período.

Apenas nas Filipinas, os registros absolutos anuais passaram de 800 para 1.210 entre 2010 e 2014, um salto de mais de 50%.

O estudo de dois anos conclui que aplicativos de paquera para celular elevaram as opções de sexo casual em uma escala sem precedentes.

“A explosão de aplicativos de paquera gay para smartphones expandiu como nunca as opções para sexo espontâneo casual – usuários dos aplicativos móveis na mesma vizinhança (quando não na mesma rua) podem se localizar e marcar um encontro sexual imediato com apenas alguns toques na tela”, afirma o relatório da pesquisa.

Embora as confirmações de HIV positivo estejam caindo no quadro geral, os índices vêm avançando entre segmentos específicos da população da região, como jovens homens gays, homens que se relacionam sexualmente com homens, jovens que fazem sexo por dinheiro, jovens usuários de drogas injetáveis e jovens transgênero.

A epidemia avança mais rápido – sobretudo em grandes cidades, como Bangcoc (Tailândia), Jacarta (Indonésia) e Hanói (Vietnã) – entre homens jovens que fazem sexo com homens e jovens usuários de drogas injetáveis. Segundo o Unicef, essa tendência coincide com um aumento no comportamento de risco, como envolvimento sexual com múltiplos parceiros e uso irregular de preservativos.

“Jovens homens gays nos afirmaram com frequência que agora estão usando aplicativos de paquera para encontros sexuais, e que estão tendo mais sexo casual em decorrência disso. Sabemos que esse tipo de comportamento de risco aumenta a disseminação do HIV”, afirmou ao jornal britânico The Guardian Wing-Sie Cheng, consultor do Unicef para HIV/Aids no leste da Ásia e Pacífico.

Pressão e exclusão – “Eu era muito vulnerável ao HIV antes mesmo de fazer 18 anos. Era quando estava explorando minha sexualidade e buscando meios de lidar com a pressão da escola e das grandes expectativas da família. Também tinha depressão crônica, principalmente diante de frustrações românticas. Por causa disso, mantinha sexo sem proteção com diferentes garotos que mal conhecia e que encontrei por redes sociais na internet”, afirmou ao estudo um rapaz filipino de 28 anos, identificado apenas como J.A.

A pesquisa reconhece que os setores mais vulneráveis a epidemia são também os mais marginalizados, não raro rejeitados pelas famílias e ignorados por serviços públicos de saúde e educação.

“Embora as circunstâncias sociais e econômicas possam variar, são jovens afetados pelas inseguranças emocionais da adolescência, como a expectativa de cumprir papeis de gênero e baixa autoestima (…). Jovens também costumam acreditar que não correm risco, mesmo considerando que outros com o mesmo comportamento estão em perigo”, afirma o relatório.

Tecnologia como educação – O estudo do Unicef cita a possibilidade de usar aplicativos de paquera populares na região, como Jack’d, Blued e Grindr, para promover educação sexual e estimular, por exemplo, os exames para verificação da infecção por HIV entre a juventude ultraconectada.

Os indicadores de inclusão digital na região atestam o potencial da ideia: são 3,7 bilhões de conexões móveis, 1,4 bilhão de usuários ativos de internet e quase 1 bilhão de usuários de redes sociais em dispositivos móveis.

“Estamos convencidos de que existe uma relação (entre uso de aplicativos e aumento nos casos de HIV), e que precisamos trabalhar melhor com os provedores de aplicativos para compartilhar informação sobre HIV e proteger a saúde dos adolescentes”, completou Cheng ao jornal britânico.

Mas a estratégia pode não ser eficaz, como disse ao The Guardian Jesse Krisintu, que trabalhou em projetos de incentivo ao teste de HIV em jovens por meio de táticas como anúncios de aplicativos de paquera.

Segundo ele, uma iniciativa que oferecia descontos em testes de HIV nesses anúncios teve retorno pífio – a maioria dos usuários fechava a publicidade imediatamente.

“É o negócio deles (dos sites de paquera). Se anunciarem muito sobre HIV e Aids você acha que as pessoas irão usá-los?”, questionou.

Mortalidade – Outra conclusão da pesquisa é que adolescentes são mais vulneráveis a morrer de causas relacionadas à Aids, por causa de fatores como diagnóstico tardio e menor propensão a buscar tratamento, muitas vezes por temor de estigmatização ou de expor a sexualidade a familiares ou autoridades.

Pelo menos 18 países da região criminalizam as relações homossexuais, o que desencoraja homens gays a buscar tratamento, segundo a ONU.

Apenas no sul da Ásia, as mortes ligadas ao HIV entre pessoas de 10 a 19 anos quase quadruplicaram de 2001 a 2014: elas foram de 1,5 mil pra 5,3 mil. Para a Unicef, se a epidemia da síndrome entre adolescentes não for combatida, não será possível cumprir a meta da ONU de retirar, até 2030, a Aids da lista de ameaças globais à saúde pública.

Embora o estudo da Unicef não aborde o Brasil, dados oficiais mostram que a incidência de infecção por HIV está aumentando entre jovens de 15 a 24 anos.

Segundo o Ministério da Saúde, o índice por 100 mil habitantes passou de 9,6 em 2004 para 12,7 em 2013. Foram 4.414 novos jovens detectados com o vírus em 2013, ante 3.453 em 2004.

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