Mesa intervém, tira relator, petista entra e sai, e processo contra Cunha vira bagunça
Publicado
emDaiene Cardoso e Igor Gadelha
Depois de tumulto que se transformou em bate-boca generalizado, o presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), encerrou a sessão alegando que não havia mais clima para continuar os trabalhos. Araújo quer fazer ainda nesta quarta-feira, 9, o sorteio da lista tríplice de onde sairá o substituto do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) para a relatoria do processo disciplinar contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Araújo classificou como “golpe” a decisão do vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA) de retirar Pinato da função. “Acho que isso é golpe. Não podemos continuar numa Casa em que a cada instante reformula-se as decisões”, desabafou.
Membros da Mesa Diretora reclamaram por não terem sido avisados previamente da decisão de Maranhão de destituir Pinato da relatoria do processo contra Cunha. Eles afirmaram que o assunto não foi discutido durante a reunião da Mesa desta tarde e dizem que só ficaram sabendo da decisão pela imprensa já durante o encontro.
“O assunto nem foi colocado na reunião. Foi uma decisão monocrática”, afirmou Luiza Erundina (PSB-SP). Na avaliação da deputada, a decisão de Maranhão foi mais uma “manobra” de Cunha para interferir no processo contra ele no colegiado. O peemedebista é alvo de representação por quebra de decoro parlamentar no colegiado sob suspeita de ter mentido à CPI da Petrobras ao dizer que não tinha contas secretas na Suíça.
A deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) ressaltou que a decisão do vice-presidente da Câmara foi monocrática, pois ele sequer participou da reunião. “Dizer que foi decisão da Mesa é uma viagem”, disse. Ela evitou, contudo, avaliar a decisão de Maranhão como uma “manobra” de Cunha para se salvar no Conselho de Ética.
O primeiro secretário da Mesa, deputado Beto Mansur (PRB-SP), afirmou que durante a reunião da Mesa foram tratadas apenas questões administrativas da Casa, como a divisão de apartamentos funcionais, abonos de faltas e viagens para missões oficiais. “Absolutamente nada disso (decisão sobre Pinato) foi discutido na reunião da Mesa”, disse.
Entra e sai – Araújo (PSD-BA), decidiu suspender a sessão da tarde desta quarta-feira, 9, após a decisão da Mesa Diretora da Câmara de retirar Fausto Pinato do papel de relator do processo disciplinar contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
Araújo anunciou que fará nova eleição para escolha do relator do processo e que ficarão de fora do sorteio todos os oito titulares membros do bloco PMDB/PP/PTB/DEM/PRB/SD/PSC/PHS/PTN/PMN/PRP/PSDC/PEN/PRTB. Diante da pressão, ele resolveu encerrar a sessão e convocar nova reunião para esta quinta-feira, 10, as 9h30.
“Não vou fazer o jogo que querem fazer. Não posso colocar em risco o Conselho de Ética. O que estão fazendo conosco é um absurdo”, protestou Araújo.
Araújo havia proclamado Zé Geraldo (PT-PA) como substituto do relator Fausto Pinato (PRB-SP). Diante das manifestações apelando para um novo sorteio, voltou atrás. O deputado Marcos Rogério (PDT-RO) defendeu precaução na decisão em nome da probidade do processo disciplinar. “O que não pode é deixar o processo viciado”, declarou.
O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que a situação era humilhante para o colegiado e que a manobra se tratava de “jogatina” e “chicana”. “O que estamos vivendo aqui nunca vivemos. Isso é um circo que está sendo montado porque quem está sendo julgado é o presidente da Casa”, disse.
Alguns membros da Mesa Diretora, como a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) e o deputado Alex Canziani (PTB-PR), vieram à sessão informar que a decisão que retirou o relator Fausto Pinato (PRB-SP) da função foi exclusiva do vice-presidente Waldir Maranhão (PP-MA), aliado de Cunha.
A pressão para o adiamento da sessão veio principalmente do novo líder do PMDB, Leonardo Quintão (MG). Ele apelou para que Araújo encerre a sessão e convoque nova sessão para 24 horas.