Médicos vão entrar com ação na Justiça contra o governador Pezão por crise na saúde
Publicado
emFelipe Martins e Maria Clara Vieira
Preocupado com o agravamento da crise na saúde do estado e a proximidade das Olimpíadas, o Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed) decidiu ajuizar uma ação por crime de responsabilidade contra o governador Luiz Fernando Pezão. “Não podemos ficar calados. Nossa preocupação é que ocorram mortes e colocarem a responsabilidade nos médicos. Essa situação criminosa é de responsabilidade do governo”, disse o presidente do SinMed, Jorge Darze, em entrevista coletiva
Darze, transmitiu a decisão em coletiva na sede do sindicato com a presença de jornalistas correspondentes estrangeiros. Darze convocou a mídia internacional para alertar moradores de outros países que pretendem vir ao Rio para os Jogos Olímpicos “de que se adoecerem aqui, vão ter dificuldades para se tratar”.
Para o presidente do sindicato, o estado deveria ter se preparado para os efeitos da queda na arrecadação. Ele condenou a dependência do estado ao petróleo. “O governo tinha conhecimento da redução da arecadação do ICMS, da redução dos royalties. É o governo que acompanha a redução do preço do barril de petróleo. O governador, como gestor, não poderia ter permanecido inerte diante dessas informações todas. Tinha que ter tomado medidas para evitar que a população passasse o que agora está passando. A crise chegou à população mais pobre que depende do SUS . Hoje, o morador do estado do Rio não tem segurança para buscar atendimento”.
Darze acredita que a crise na saúde se deve mais a erros na gestão da saúde no estado. “Faltou perna”. Para o médico, houve gasto excessivo com a construção de novos edifícios em detrimento da melhoria de unidades já existentes que poderiam suprir a necessidade da demanda. Outro problema apontado por ele é a entrega das unidades de saúde às Organizações Sociais (OS).
“Em vez de gastar dinheiro com a compra de novos aparelhos, tomógrafos por exemplo, construíram um novo centro de imagem no Centro e entregaram a uma empresa privada. Estamos falando de uma gestão mais dispendiosa””, abordou.
Na coletiva, Darze aproveitou a presença de correspondentes estrangeiros e fez um alerta a moradores de outros países que virão ao estado para as Olimpíadas. “O Sindicato dos Médicos, tendo ciência de que o Rio será sede de uma agenda internacional, de que milhares, talvez milhões de pessoas virão para esse evento, não pode se omitir para alertar para os riscos que esses estrangeiros estão correndo. Se vierem ao Rio, se adoecerem aqui, vão ter dificuldades para se tratar. Não estamos fazendo campanha contra as Olimpíadas, mas estamos no nosso papel de médicos de alertar aos estrangeiros de que vão ter enorme dificuldade de obter atendimento no setor público”.
Pedro Paulo é hostilizado
Candidato de Eduardo Paes à Prefeitura do Rio, o secretário-executivo de Coordenação de Governo, Pedro Paulo Teixeira, foi hostilizado por cerca de 200 funcionários do Hospital Rocha Faria, em Campo Grande, no primeiro dia de municipalização da unidade. Em meio a gritos de “O hospital é nosso” e “Não à privatização”, eles protestavam contra a mudança na administração, iniciada semana passada também no Hospital Albert Schweitzer, em Realengo.
“Eles roubaram, roubaram e agora atribuem o resultado à crise. A mudança na administração não passa de uma campanha, porque a Zona Oeste é o maior curral eleitoral do Rio”, acusou a enfermeira Ercília Sampaio, de 68 anos.
Segundo os manifestantes, a maior preocupação é com os concursados estatutários, contratados para vagas específicas e que, devido à falta de auxílio-transporte, não conseguiriam se deslocar para outras unidades. Eles também gritavam “Maria da Penha”, em alusão à lei que protege as mulheres de violência — ano passado, Pedro Paulo foi envolvido em um escândalo, acusado de agredir a mulher, em 2008 e 2010. O protesto parou o trânsito na rua em frente ao hospital.
Tal como em Realengo, a transferência foi marcada por um “choque de ordem” externo no hospital, com limpeza das ruas e calçadas. “Estamos fazendo um ‘choque de boas-vindas’ na frente do hospital para receber a população”, disse o secretário. Ele garantiu que a questão dos servidores será tratada “com toda atenção e dedicação”. “Aqui há servidores públicos, servidores fundacionais e de organização social. Não é um hospital simples, é uma unidade grande e nós vamos tratar disso”, disse Pedro Paulo.
Mesma empresa administrará dois hospitais da região
Além de temer demissões e transferência, os funcionários do Rocha Faria tentam impedir a entrada de novas Organizações de Saúde (OS), afirmando que estas repassam apenas parte do dinheiro destinado aos médicos. A enfermeira Rose Aimé, 61, acusa a prefeitura de não ter condições para cuidar da unidade.
“Eles mal cuidam do que já lhes pertence, basta ver o Hospital Pedro II (em Santa Cruz). Além disso, o governo dá prioridade para as OSs, o que é um desrespeito com os concursados”, criticou. Em nota, a prefeitura informou que a gerência do Rocha Faria será de responsabilidade da mesma OS que está à frente do Albert Schweitzer e do Hospital e Maternidade Terezinha de Jesus (HMTJ). A justificativa é que uma mesma OS gerindo os dois hospitais da Zona Oeste deverá facilitar processos emergenciais, como a aquisição de insumos em larga escala por menor preço. Em até 180 dias será escolhida a OS que administrará o Rocha Faria pelos próximos anos. Hoje, apenas a maternidade e o setor de tomografia são geridos por OS.
Médica critica entrega da gestão a OSs
A vice-presidente do Sindicato dos Médicos, Sara Padron, criticou a contratação de OSs para gerir as unidades de saúde e afirmou que não existe contingência para atender pacientes com a vinda das Olimpíadas e Carnaval. “A desculpa de que não tem dinheiro é falsa, porque o governo já recebe uma receita para a saúde, justamente para que não haja estes imprevistos. “Mas quando você dá a gestão para outras empresas do tipo OS, com todas essas irregularidades, acaba causando prejuízo aos cofres púlblicos”, destacou.
A prefeitura informou que na semana passada já havia transferido 51 pacientes do Rocha Faria, “que estava operando acima da sua capacidade de internação, com leitos extras e demora no atendimento”, para outras unidades das redes municipal e estadual. Do total, 37 foram para o Albert Schweitzer. A maior parte precisava de cirurgia.
O Dia