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Indústria farmacêutica e agronegócio ficam à margem da crise econômica do País

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Mônica Scaramuzzo e Fernando Scheller

Em meio à crise que atropela a economia brasileira e que tem levado grandes grupos a reestruturar dívidas e outros até mesmo a pedir recuperação judicial, alguns conglomerados com atuação multissetorial têm se mostrado imunes – ou quase – à turbulência e estão conseguindo se destacar em um cenário desolador, em que o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,8% no ano passado e deve encolher pelo menos mais 3% em 2016.

Num momento em que o consumo interno não para de cair, não têm muito a reclamar da crise os grupos que fizeram apostas como: vender artigos de primeira necessidade, como medicamentos, cujo consumo cresce respaldado no envelhecimento da população; investir no agronegócio, único pilar da economia brasileira a fechar no azul em 2015; ou apostar na expansão no exterior.

Encaixam-se nessa categoria de “privilegiados” grupos como os brasileiros Ultra e J&F, o alemão Bayer e o canadense Brookfield, de acordo com consultores, gestores de bancos e analistas ouvidos pela reportagem.

Dono da rede de postos de combustíveis Ipiranga, o Grupo Ultra tem obtido bons resultados na Ultragaz, que vende botijão de cozinha, uma vez que a população tem feito mais refeições em casa. Quando decidiu entrar em um novo setor em 2013, o grupo comprou a Extrafarma, de varejo farmacêutico.

Já o grupo alemão Bayer tomou, no ano passado, importante decisão estratégica ao sair do setor químico para focar em medicamentos e em agronegócio. A companhia está entre as dez maiores do País em medicamentos e entre as cinco maiores em defensivos agrícolas. A J&F, além de posicionada no agronegócio, priorizou sua expansão em negócios de alcance global, como a Eldorado (de celulose) e a Alpargatas (dona da Havaianas). Uma das principais compradoras de ativos no Brasil, a Brookfield se beneficia de investimentos em energia renovável, que tem preços mais atraentes, e concessões de rodovias, que têm fluxo de caixa garantido.

Seleção – A resiliência desses grupos não vem apenas do fato de serem multissetoriais, afirma Paulo Furquim, coordenador do centro de pesquisas em estratégia da escola de negócios Insper. O segredo é a seleção de ativos que eles fizeram. “Casos como Ultra, Brookfield e Bayer mostram uma combinação prudente de ativos e certa sorte nesse momento mais delicado. No caso da J&F, que tem um endividamento maior em dólar, conta a favor o fato de o grupo estar bem posicionado globalmente.”

A força desses grandes grupos está fundamentada em números. Apesar de a venda de combustíveis ter se mantido estável em 2015, na comparação com o ano anterior, a Ipiranga – principal negócio do Ultra – teve alta de 12% na receita, para R$ 75,7 bilhões. O lucro subiu 21%, para R$ 1,2 bilhão. O presidente do Ultra, Thilo Mannhardt, contesta o fator sorte. “Não existe sorte. Tem, sim, o trabalho de desenvolver negócios que façam sentido para a companhia. É o caso da expansão da Extrafarma, que já ocorre nos postos Ipiranga.”

Líder global em carne bovina, com o JBS (Friboi), a J&F tem 88% de suas receitas originadas fora do Brasil. No terceiro trimestre de 2015, a gigante da proteína animal faturou R$ 43 bilhões, quase 40% a mais do que no mesmo período de 2014. O lucro, na mesma comparação, subiu 214%, para R$ 3,4 bilhões.

Segundo o presidente do conselho da J&F, Henrique Meirelles, a decisão de ter uma atuação global foi tomada ainda em 2007, com a compra da americana Swift. Depois, essa lógica foi aplicada à criação da Eldorado Celulose (cuja produção é quase 100% exportada) e da recente compra da Alpargatas (dona da Havaianas) “Nosso objetivo é ter produção em vários países.”

A subsidiária brasileira da Bayer também apresentou bons resultados no ano passado: as vendas somaram R$ 10,17 bilhões, alta de 26% sobre 2014. Apesar de estar atento aos altos custos de produção no País (os insumos são importantes e boa parte dos medicamentos tem preço controlado), o presidente da Bayer no Brasil, Theo Van der Loo, diz que o País continua a ser um mercado-chave. “Seríamos o terceiro maior em receita, e não o quarto, não fosse a desvalorização do real.”

Já a Brookfield aproveitou o real mais barato para comprar ativos no Brasil: hoje, tem R$ 40 bilhões aplicados por aqui (R$ 5 bilhões a mais do que em 2014). É dona de edifícios comerciais (como o atualmente ocupado pelo Itaú BBA, em São Paulo), pequenas centrais hidrelétricas e tem participação em concessionárias de rodovias.

Futuro – Ao olharem adiante, esses grupos também mostram apetite para continuar a investir. A J&F, que lucrou mais de R$ 12 bilhões com derivativos cambiais no ano passado pelo JBS, estaria interessada em adicionar novos negócios ao portfólio. Segundo fontes, o grupo estaria olhando oportunidades desde o setor financeiro até em bens de consumo, como a Natura. À reportagem, Meirelles negou o interesse na empresa de cosméticos, mas disse que ainda há espaço para aquisições.

A Brookfield estaria de olho em ativos em dificuldades, incluindo os da espanhola Abengoa, que entrou com pedido de recuperação judicial em seu país. Procurada, a gestora canadense não comentou.

Já o Grupo Ultra prevê expandir o número de postos de combustíveis nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Além disso, não descarta novas aquisições, incluindo negócios que a Petrobrás está colocando à venda para superar a crise.

estadao

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