Há instabilidade política, mas não se pode jogar corrupção sob o tapete, diz o juiz Moro
Publicado
emAltamiro Silva Junior
O juiz federal Sergio Moro admitiu em evento na noite desta sexta-feira, em Chicago, que as investigações da Operação Lava Jato estão criando instabilidade política, mas ressaltou que não se pode esconder as coisas “embaixo do tapete” e que a justiça criminal não pode resolver todos os problemas do país.
“A Lava Jato tem trazido impactos significativos, alguns falam até em impactos econômicos. Não sei o alcance, mas inegavelmente há instabilidade política decorrente da investigação”, afirmou.
“As instituições democráticas estão bem, estão funcionando, a Justiça está bem”, afirmou na palestra. Moro frisou que há um problema econômico “muito sério” no Brasil e o quadro de recessão é preocupante. O importante, disse ele, é trabalhar para que as instituições no país melhorem e que a democracia não seja contaminada pela corrupção sistêmica. Para ele, um investidor estrangeiro ficaria relutante em aportar recursos em um país onde a corrupção é a regra do jogo, presente tanto no setor público como privado.
Moro afirmou que o Brasil teve situações no passado mais difíceis que a atual e citou o período militar. “Tivemos uma ditadura militar que obscureceu a democracia por décadas, mas a democracia no final se autoafirmou.” Ele citou ainda o período de hiperinflação, onde se convivia com taxas mensais de dois dígitos.
Ainda na palestra, Moro afirmou que as investigações da Lava Jato têm sofrido “acusações e ataques severos”, mas ressaltou que não vê outra opção que não seguir no combate à corrupção. O Brasil, porém, precisa fortalecer as instituições e não confiar só na Justiça.
“Não vamos conseguir aprofundar nosso estado de direito e nossa democracia pelo sistema de Justiça Criminal”, afirmou Moro. O juiz ressaltou que é preciso se empenhar para que esses casos não se repitam e voltem a situação anterior, de corrupção como prática comum. “Corrupção não é um sistema só do governo, mas também da iniciativa privada.”