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Morro do Vidigal invade passarelas de São Paulo para apresentar sua moda

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Giovana Romani

Na quinta-feira, 14, 20 jovens deixarão o morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, para estrear nas passarelas de São Paulo. Recém-formados pela Casa Geração Vidigal, escola de moda localizada na comunidade carioca, eles realizarão um desfile na Casa dos Criadores, evento dedicado a revelações da moda nacional que ocorre até sexta, 15. “Fiquei encantado com o projeto desse laboratório de criação no meio da favela”, diz André Hidalgo, organizador da semana. “Os meninos são talentosos e fazem uma roupa com design e cuidado.”

Para se lançarem na empreitada paulistana, os jovens colocaram no ar um crowdfunding e arrecadaram R$ 11 mil em doações, valor suficiente para bancar o transporte, a hospedagem em um hostel e a alimentação da turma. Mostrarão sete coleções temáticas em um único desfile, com styling assinado por Dudu Bertholini. Os 35 looks levados à passarela foram confeccionados com tecidos doados por grandes empresas e nomes do setor têxtil, como o da estilista Lenny Niemeyer, especialista em moda praia. Ela forneceu o elastano para a produção das peças da linha de beachwear, inspirada na obra da artista plástica Lygia Clark e pensada por três dos alunos, Alice Calzolari, Allan Machado e Mariane Ferreira.

Alice, de 24 anos, mudou-se para o Vidigal só para participar do projeto. Natural de Itaperuna, no interior fluminense, ela aluga desde o fim de 2014 um pequeno apartamento por R$ 550 mensais. “Sabia que o curso era gratuito para moradores de comunidade”, conta ela, que estudava estatística na UFRJ e deixou o curso para dedicar-se à moda. Começou customizando shorts jeans, que vendia por R$ 50 para colegas de faculdade. Hoje, trabalha como assistente de estilo no escritório de uma grande marca do Rio.

Para Alice e seus colegas, o desfile em São Paulo será a coroação de um ano de trabalho. Selecionados entre 400 inscritos, os 20 alunos ingressaram na casa Geração em fevereiro de 2015. Ao longo dos últimos meses, aprenderam a desenvolver uma coleção, a criar modelagens e a costurar em três tipos de máquina (reta, overloque e galoneira). A maior parte dos estudantes vem de comunidades, a exemplo do Complexo da Maré, do Morro do Alemão e da favela da Rocinha.

“Não há assistencialismo, focamos no talento”, afirma a empresária Andréa Fasanello, que fundou a Casa Geração há três anos em parceria com a jornalista francesa Nadine Gonzalez. “No processo seletivo, os interessados mandam croquis, participam de entrevistas e precisam demonstrar conhecimento sobre o assunto. Só depois vemos onde moram.”

Tudo o que é produzido na escola é colocado à venda – inclusive as peças do desfile -, com uma parte do valor destinada aos alunos e outra à manutenção do projeto. Por enquanto, o financiamento vem de doações privadas e de fundações, como a do Banco Société Génerale e a do grupo Accor. “Temos como objetivo nos tornar autossuficientes e exportar a moda do Rio para o mundo”, afirma Andrea.

Já estão dando passos para isso. No início de março, uma das recém-formadas, a estilista Camila Vaz, apresentou sua linha de roupas esportivas em um evento durante a Semana de Moda de Paris, e recebeu elogios de Yassine Saidi, diretor criativo da marca Puma.

Edição compacta. No total, a Casa de Criadores terá 18 desfiles. Todos os estilistas, inclusive os do Vidigal, precisam arcar com os custos de suas coleções. A organização do evento, por sua vez, oferece a estrutura necessária para a realização do desfile, de modelos a maquiadores, passando por profissionais de iluminação e som. Assim como a São Paulo Fashion Week, que este ano terá investimento 20% menor, a semana de moda destinada a jovens estilistas será mais enxuta.

Em sua 38ª edição, a Casa de Criadores terá o público reduzido de 1.200 para 400 pessoas e um formato compacto. “Não se trata apenas de uma questão de dinheiro, mas o momento não é de grandes acontecimentos”, afirma o organizador André Hidalgo. “É mais adequado fazer algo mais cool.” Patrocinado pelo Grupo Lunelli, o evento deve custar entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão e terá transmissão online. Algumas peças apresentadas por seis estilistas serão colocadas à venda no e-commerce Passarela, logo após os desfiles. No Brasil e no mundo, há uma corrente que defende a ida direta das roupas das passarelas para as lojas (e não apenas depois de seis meses, como ocorre atualmente).

estadao

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