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Átila, de diplomata a produtor de cachaça. Aquela, a DoMinistro

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José Escarlate

Conta a lenda que mineiro, por tradição, é econômico demais da conta. Depois do meu amigo Glauco Lessa, outro mineiro chegou ao Tribunal de Contas da União. Foi o ex-porta-voz da presidência da República, Carlos Átila Álvares da Silva, filho do jornalista Joaquim de Oliveira Álvares da Silva.

Nascido em Nova Lima, Átila é bacharel em Ciências Jurídicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e diplomata de carreira pelo Instituto Rio Branco, em 1961. Quando atingiu o posto de Conselheiro, foi levado pelo então coronel Rubem Ludwig para ser o adjunto de imprensa do Palácio do Planalto.

Como diplomata chegou a Ministro de Primeira Classe, por merecimento – embaixador – em 1985 e, em março, nomeado ministro do Tribunal de Contas da União, onde foi vice-presidente em 1990 e 1991, e presidente, no biênio 1992-1993. Em dezembro de 1998 Carlos Átila aposentou-se. Simpático, atencioso, extremamente bem preparado, Átila ajudava a imprensa quando podia, pois tinha seus limites.

Ficamos amigos durante a cobertura no Palácio do Planalto. Essa amizade cresceu por ocasião do episódio do infarto do presidente João Figueiredo. Fomos juntos para a Cleveland Clinic, em Cleveland, Ohio. Ele, Secretário de Imprensa da presidência, eu como repórter. Foram momentos difíceis para todos. O trabalho era intenso, trabalho que tinha começo e meio, mas não tinha fim. Dobrávamos dia e noite, até a estafa nos alcançar.

Por ocasião dessa jornada, Carlos Átila nos fez – a mim e ao meu colega Nery Garcia, fotógrafo e homem de mil e uma utilidades – longo elogio escrito, pelo trabalho realizado. Esse elogio foi dormir nas nossas fichas funcionais. Estávamos em tempo de Empresa Brasileira de Notícias – EBN -, que sucedeu à Agência Nacional. Quando virou Radiobrás, o elogio foi para o lixo, no começo do governo Collor de Mello, graças à santa incompetência da direção da empresa.

Esta é uma história longa, que mais tarde vou contar.

Diplomata, Átila representou o Brasil em várias atividades da ONU. Entre elas, como delegado junto à UNCTAD, em Nova York e Genebra. Levou seu talento mundo afora, representando o TCU em vários eventos. Mas o destino prega peças que até Deus duvida.

O discreto e fino diplomata viria a tornar-se mais tarde um premiadíssimo bodegueiro, ou melhor, alambiqueiro. Virou com outros três mineiros adepto da branquinha, a cachaça de boa qualidade. Seguiu os passos do mineiríssimo Aécio Neves e do saudoso José Alencar. Itamar Franco gostava da caninha, mas não produzia.

Aécio, desde os tempos do avô, Tancredo Neves, produzia em sua Fazenda da Mata, em Cláudio, interior mineiro, a cachaça Mingote. Mingote era o apelido do seu tetravô, Domingos.

Já José de Alencar defendia com unhas e dentes as qualidades da sua Maria da Cruz. que tinha como centro de produção a sua fazenda Cantagalo, em Pedras de Maria da Cruz, próxima à região de Salinas.

Hoje, em seu sítio em Alexânia, Carlos Átila, já aposentado como ministro do TCU, produz e vende a sua cachaça, cujo nome é DoMinistro.

Ainda no TCU, vez por outra levava para colegas e assessores uma garrafa da branquinha. Quando indagavam, respondia: “É a cachaça do ministro.” E “Doministro” pegou, estando inclusive com o nome registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o INPI, e no Ministério da Agricultura.

Hoje, com a ajuda do filho Alexandre Boureau Álvares da Silva, seu sócio na empresa, Átila conseguiu diversificar as modalidades da cachaça Doministro: Ouro, Prata, Premium e Extra Premium. Nome de tipo de gasolina, mas é boa.

Virando expert no assunto, Átila defende que o nome cachaça fique reservado exclusivamente para a cachaça produzida em alambique, com fermentação natural. “O destilado – diz ele -, produzido em coluna, deveria ser denominado aguardente”.

PV

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