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Artesãos do Destino (Parte II)

A abordagem e o duplo convencimento para mudar o futuro de Adolf

Publicado

Autor/Imagem:
J. Emiliano Cruz - Foto Produção Irene Araújo

Parando em frente a uma discreta loja de venda de cartões postais, quadros e pequenos utensílios, Don viu um rapaz de costas, ajeitando objetos em uma prateleira.

– Bom dia, Adolf!

O jovem virou-se, aparentando surpresa.

– Bom dia, senhor…nós nos conhecemos?

– Meu nome é Don, sou americano. Bem, você ainda não me conhece, mas de certa forma, eu posso dizer que já te conheço.

– Mesmo? Bem, em que posso ajudá-lo, senhor Don? Está procurando algo em especial?

– Talvez, mas antes gostaria de lhe fazer algumas perguntas, você se importa?

– Tudo bem, se eu souber responder…

– Olha Adolf, eu sei que você é de uma família humilde, sem grandes posses, esforçado e trabalhador…e você tem dois grandes sonhos, não é mesmo?

Desconcertado e surpreendido, Adolf concordou, desconfiado:

-Verdade…mas por que o senhor está falando isso comigo? E qual o seu interesse em mim?

– Olhe, não se assuste com o que vou falar, eu tenho uma ótima proposta para lhe fazer. Ela vai permitir que você realize os dois grandes sonhos da sua vida: ser um pintor reconhecido e conquistar o amor de uma certa jovem alta, loira, aspirante à cantora e de origem judia. O nome dela é Stefanie. Acertei?

Adolf estremeceu e gaguejou:

– Sim… isso mesmo, mas acho que jamais vou realizar nenhum desses sonhos. Mas…mas… como o senhor sabe disso?

– Isso não é importante! Eu represento uma firma da América que está recrutando jovens talentos europeus ainda desconhecidos e vi potencial em você como artista. Então, você quer ouvir a minha proposta, Adolf?

– Sim, se é assim…quero sim, o senhor pode falar.

– Você vai se mudar para a cidade de Nova York, acompanhado da jovem que você ama. Lá, haverá um empresário das artes que vai cuidar da sua carreira como pintor e também da carreira dela como cantora. Através do agenciamento dele, o sucesso de vocês dois é garantido. E você e a sua musa recebem imediatamente uma bela quantia em dólares americanos, além de duas passagens de navio para a América na primeira classe. Isso lhe Interessa?

Parecendo estar em transe, Adolf arregalou os olhos e, de novo, gaguejou:

– Eu não sei…o senhor já falou com a Stef? Ela concordou em ir junto comigo?

– A minha parceira americana está conversando com a Stefanie nesse momento…e achamos que ela aceitará a nossa proposta.

– Mas, eu não sei se ela aceitaria se casar comigo, ela sempre desconversou quando tentei puxar esse assunto…e isso sempre me deixou muito exasperado!

– Bem, isso é com vocês dois. Mas agora ela certamente vai ver você com outros olhos… e se ela aceitar viajar com você, isso já seria um grande passo para o seu objetivo, não é mesmo? Você teria muito tempo na viagem para conquistá-la e, depois, pedir a mão dela em casamento quando chegarem à cidade de Nova York.

– Bem…eu nem me dou bem com os meus pais mesmo e, além da Stef, só tenho um amigo por aqui, o Tom. Ele é descendente de irlandeses e também é amigo dela. Então, se a Stef aceitar, eu também aceitarei.

– Ótimo, Adolf! Sendo assim, agora você precisa vir comigo até o local combinado com a minha parceira. Ela e a Stefanie deverão nos encontrar lá.

– Agora? Está bem, senhor Don, vou falar para o dono da loja que surgiu uma emergência de saúde na família e que vou precisar sair por um tempo.

Próximo dali, em uma lojinha de roupas femininas:

– Bom dia! Você é Stefanie Isak?

– Bom dia! Sim, sou eu, em que posso ajudá-la, senhora?

Lembrando da sensação que já experimentara antes, Bárbara sentiu um calafrio quando olhou nos olhos de Stefanie.

– Muito prazer! Meu nome é Bárbara, eu sou americana. Eu tenho algo muito importante para lhe falar. Será que podemos conversar a sós por alguns minutos?

– Muito prazer, dona Bárbara, podemos sim. Vamos sentar ali no escritório do proprietário da loja, ele não está no momento. Aceita um café ou um chá?

– Aceito um chá, obrigada!

-Bem, aqui estamos. De que se trata?

– Trata-se do seu futuro, Stefanie! Sei que você tem um segundo trabalho como cantora em uma casa noturna aqui na cidade. O seu sonho é ser uma cantora famosa, não é mesmo? Olha, eu represento uma organização da América que faz prospecção de jovens talentos artísticos europeus. Eu e o meu parceiro vimos potencial em você e temos uma proposta para lhe fazer.

Sorridente, mas surpresa e desconfiada, Stefanie respondeu:

– Sério? Eu tenho potencial? Puxa, obrigada! Então já me ouviram cantar, né…mas por que estão justamente aqui em Linz? Esta cidade é tão insignificante perto de Viena e de outras cidades da Europa.

– Bem, a nossa organização avalia que é exatamente em cidades como a sua que podemos encontrar o que procuramos: talentos raros e escondidos. Então, Stefanie, você quer ouvir a proposta que temos para você?

– Hum…tudo bem, quero ouvir sim!

– Ótimo! Bem, vou ser bem objetiva: você vai morar na cidade de Nova York. Lá, haverá um agenciador profissional que cuidará da sua carreira e garantirá que você vai se apresentar nos melhores e mais renomados locais de shows da cidade. Também receberá um considerável valor em dólares antes da partida, além de passagem de navio na primeira classe.

– Hum…parece ótimo! Mas que quantia exatamente seria essa?

– Cinquenta mil dólares.

– É um bom valor, mas…não sei! Dizem que o custo de vida na América é bem alto, né?

– Stefanie, sei que esse valor representa cinco anos dos seus dois salários somados aqui em Linz… mas, tudo bem, estou autorizada a lhe oferecer até cem mil dólares em mãos. É pegar ou largar!

– Certo, com essa quantia e a carreira garantida, eu aceito!

– Excelente! Mas tem uma coisa que você precisa saber e que faz parte do nosso acordo. Sei que você tem um amigo que é apaixonado por você. O nome dele é Adolf, não?

Demonstrando desconforto, Stefanie falou:

– Sim…mas como sabe disso? E o que o Adolf tem a ver com a nossa conversa??

– Stefanie, como eu sei, não importa. Vou explicar a outra parte da sua pergunta, mas, antes, responda sinceramente o que eu vou perguntar porque isso é uma parte fundamental do nosso acordo: você gosta dele ou, pelo menos, convive bem com ele?

-Hum…ele realmente gosta de mim, mas, às vezes, ele tenta ser possessivo e se irrita facilmente quando é contrariado. De certa forma, gosto do Adolf, sim, porém, além do que já falei, acho ele meio sem-noção na perspectiva de vida dele e não o enxergo como alguém com potencial para garantir uma vida tranquila para uma moça mais exigente como eu, se é que você me entende.

– Entendo, sim, Stefanie. Bem, Adolf é aspirante a pintor e é justamente o outro jovem talento que queremos levar para os Estados Unidos. Eu garanto que, assim como você, ele também vai ter uma carreira muito exitosa como artista. Ele vai ser protegido e agenciado pela mesma pessoa que você em Nova York. Então, tudo bem se vocês dois viajarem juntos?

Stefanie pareceu hesitar, no entanto, após alguns segundos de silêncio e reflexão, respondeu de forma assertiva:

– Vejam só, quem diria? Vocês viram talento no Adolf? Ninguém por aqui bota muita fé nele como pintor… mas, se é assim, por mim tudo bem. Eu topo!

– Ótimo! O meu parceiro está falando com o Adolf enquanto nós duas conversamos. Agora, precisamos de uma reunião com vocês dois para fecharmos definitivamente o acordo em todos os detalhes, falou Bárbara, aliviada.

– E o que eu preciso fazer agora, dona Bárbara?

– Você consegue uma licença na loja para me acompanhar até onde o meu parceiro e eu combinamos?

– Tudo bem! Vou falar com a gerente e pegar minha bolsa.

……………………….

A parte 3 deste folhetim será publicada na quinta-feira, 20

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