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A casa golpista caiu e soterrou o engodo político do Brasil

Após um longo e angustiante tempo de espera, finalmente foi divulgada na tarde de quinta-feira (21) a tão esperada lista dos amigos ocultos da República. São 37 cidadãos de péssima conduta social inscritos pela Polícia Federal na relação do Bolsa Presídio, dos quais 25 calçam ou já calçaram coturnos. Entre os agraciados com um tardio indiciamento, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ex-vice de coisa nenhuma, general Braga Netto, são os mais preocupados com os presentinhos que ainda devem receber ao longo dos depoimentos dos reacionários reféns das promessas não cumpridas de sua (ex)celência.

Enquanto aguardam a conclusão do alistamento mitológico, os camaradas que em breve não passarão de intragável memória já começam a elencar os pedidos que farão a Papai Noel antes que a lona caia sobre eles. Não tenho autorização para divulgar o inventário, mas posso adiantar que são aceitos maços de cigarros do Paraguai, boinas vermelhas, roupas com listras escuras e chinelos da marca Fuck You. A recomendação é que os chinelos tenham somente os pés direito e que tudo seja entregue em sacolas transparentes.

Demorou, mas a casa construída sobre um lamaçal muito mais fétido do que aquele que eles juraram derrubar ruiu de vez. Caiu e jamais será reerguida. Não direi nunca que estou de alma lavada porque a lavei no Novembro Vermelho de 2022. Tenham certeza de que não deliro, tampouco torço pela cor encarnada. No entanto, depois de quatro anos de tantas nulidades decidi sonhar com a esperança. Como a ideia era ser feliz, segui os ensinamentos de Friedrich Nietzsche e estrangulei a consciência sem qualquer trauma.

Deus, a pátria e a família estão livres do maior engodo político que o Brasil já experimentou. Considerando que o dedo do destino não deixa digital, as celebridades de ontem hoje não passam de condenados à exclusão pelo povo que eles quase impediram de votar. Parafraseando o mestre Stanislaw Ponte Preta, rabo e conselho só deve dar a quem pede. Eles não pediram, mas, se pudesse, diria a todos os 37 incluídos na Lista de Schindler que ainda há tempo para sugerir penitências. A primeira delas seria lavar a honra tentando dançar na chuva de votos que deixaram escorrer pelos ralos do pedantismo, da arrogância e da ganância pelo poder.

Novamente me valendo da inteligência ímpar do imortal Sérgio Porto, registro que a política é uma máquina de moer os metidos a espertos. Aliás, a maior desvantagem da política para os políticos é que, de vez em quando, um deles vai preso em nome da liberdade das bestas, também chamadas pejorativamente de povo. Chegou a vez daquele cuja prosperidade eleitoral durou somente um carnaval fora de época. Apenas um porque a pandemia que renegou lhe negou natais e carnavais mais apinhados de bodes expiatórios. Os que tentaram carnavalizar a República ou estão fantasiados na Papuda ou refugiados temporariamente na terra do hermano Javier Milei.

O fato é que a casa caiu. Quem estava se guardando para quando o carnaval chegar provavelmente será obrigado a ouvir o foguetório natalino longe do burburinho e bem perto do febeapá que produziram. Embora neguem até a morte, a consciência dos golpistas finalmente lembra uma vesícula, órgão com o qual o homem só se preocupa quando dói. Muito além dos pecados, também diria a eles que “o que se leva da vida é a vida que se leva”. Está aberta a temporada de caça aos imbrocháveis. Eles ainda não foram denunciados, mas em breve serão. Com a palavra o procurador-geral, Paulo Gonet.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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