José Escarlate
Nos anos 70, ter casa à beira do lago Paranoá, em Brasília, era sinônimo de alto padrão. De gente bem situada na vida. Casa no Lago Sul era, principalmente, para ministros, dirigentes de estatais e comerciantes bem sucedidos, fornecedores do governo.
Os clubes da cidade foram aumentando a toque de caixa. Surgiu o Clube do Exército, da Aeronáutica, o Clube Naval, construídos num só fôlego, vindo depois a Ascade, dos servidores da Câmara dos Deputados e, pouco depois, da Assefe, do Senado Federal.
Em rota de colisão, os dois clubes sacramentaram o fim do Clube do Congresso, que tinha uma sede social no centro de Brasília, que mais tarde foi vendida e demolida para construção de um prédio comercial, e uma sede esportiva, no final do Lago Norte, que hoje sobrevive com o aluguel de suas instalações, já precárias, para casamentos, aniversários e batizados, alem de realizar outros tipos de eventos. Caiu no esquecimento.
Antes, a cidade tinha os pioneiros Country Club, Iate Clube, Minas Brasília, Motonáutica e Previdenciários, surgindo depois os clubes que nasceram ricos, erguidos e bancados pelo governo. Tudo, praticamente, a custo zero, o que era uma desigualdade.
Havia uma febre que se alastrou de casas com piscina e churrasqueira. E essas casas logo se transformaram em clubes privés. Com isso, muita gente deixou de lado os clubes pioneiros, que tinham alta frequência, preferindo as casas, onde a mordomia era maior e melhor. Piscina, picanha na brasa, coração de galinha, uisque sem batismo e caipirinha.
E ainda melhorava o status, por conta de convidados que apareciam vez poor outra. Havia, como sempre os há, os caras de pau, os que jamais deixariam de comparecer, tipo pivô fixo. Havia em Brasília um grupo, geralmente de diplomatas, chamado de “Colméia” – não o da poupança, que estourou -, que nasceu e cresceu, fazendo carreira. A explicação era de que, enquanto uns voavam, os outros ficavam fazendo cera, bolando novas jogadas.