Beleza do cacto pernambucano
A flor de Kauane, suave como a brisa do mar
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emNo sábado, 7, em uma manhã banhada pela brisa do mar, a adolescente Kauane Farias avistou pela primeira vez aquela pequena maravilha rubra brotando do cacto que resistia às areias salgadas do litoral. Seu vermelho intenso, como uma labareda solitária, parecia desafiar o cinza da paisagem ao redor. Era uma flor que, embora diminuta, carregava a grandiosidade de quem nasce para ser notada.
A vida dessa flor não conhece geografias. Ela floresce tanto sob o sopro úmido dos ventos costeiros quanto no calor abrasador do sertão nordestino. Nos campos secos, onde o chão racha em veias de sede, ela também surge, como um milagre que não se deixa abater. É uma ponte entre dois mundos tão distintos, unindo a fartura do mar à escassez da caatinga.
No litoral, a flor é um suspiro de delicadeza entre as dunas, uma nota vibrante em uma sinfonia de tons neutros. No sertão, é um grito de esperança, um lembrete de que a beleza pode resistir, mesmo quando tudo ao redor parece desolado. Ali, é reverenciada como um sinal de que a vida é teimosa, que é possível florescer mesmo nos espaços mais inóspitos.
Kaune, conversando comigo, lembrou-me das palavras de um poeta anônimo que certa vez escreveu: “A flor do cacto é como um coração que ama, pulsando vibrante em um peito de espinhos.” Nunca essas palavras fizeram tanto sentido quanto naquele momento em que a jovem viu a flor, solitária e triunfante, enfrentando o vento salino com a mesma dignidade com que enfrentaria o calor do sol escaldante.
Talvez, na essência dessa flor, resida uma lição para todos nós. Ser delicado não é sinônimo de fragilidade. Assim como ela, observa a jovem fotógrafa, que devora com os olhos livros em uma ou outra folga entre o surfar nas ondas de Xaréu, sua praia predileta, podemos guardar em nosso íntimo uma beleza vibrante e, ainda assim, resistir às adversidades, seja na calmaria da brisa ou no rigor do sertão.
Neste domingo, 8, quando embarco para o clima de deserto de Brasília em curta viagem, ao lembrar daquela flor rubra do cacto, sinto que ela carrega uma ode à resiliência. Uma canção muda que canta tanto aos ventos do litoral quanto ao silêncio do sertão, ecoando a verdade de que a vida encontra formas de florescer, mesmo onde menos se espera.