– Caiu?
– Caiu.
– Quando?
– Ontem.
– Cadê?
– Guardei num saquinho.
– Vai fazer o quê?
– Ainda não decidi.
– Cuidado!
– Cuidado com o quê?
– Pro rato não comer.
– Que rato? Comer o quê?
– O umbigo.
– Por quê?
– Se o rato comer, vira ladrão.
– Quem?
– Quem o quê?
– Quem vira ladrão? O rato ou a criança?
– A criança.
– Besteira!
A vizinha bebericou um pouco do chá de camomila, enquanto a recém-parida a encarava. Era óbvio o seu incômodo com aquela história de rato devorador de umbigos. Onde já se viu tamanho disparate? Tolice de gente que não tem o que fazer. Que vá levar mau agouro para bem longe!
Terminado o chá, a vizinha disse que precisava ir, pois ainda passaria na mercearia do seu Oliva. Coisa pouca, um quilo de arroz e algumas cebolas. As duas se despediram com promessas de novos encontros. Breves, por assim dizer.
Mal fechou a porta, a mulher soltou um palavrão. Na verdade, foram dois ou três, mas que não vale a pena mencioná-los. Coisas de puerpério. Entretanto, calejada que era, bem sabia que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
A mulher foi direto para o quarto. Catou o saquinho com o umbigo e tratou logo de trancafiá-lo no cofre. Com o filho no colo, lançou um olhar de onça brava para a frestra debaixo da porta.
– Agora quero ver algum rato pegar o umbigo do meu menino!