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Filó

A lenda da menina dos brinquedos e seus cachos dourados

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Autor/Imagem:
Ana Pujol - Foto Produção Irene Araújo

Comecei a recolher os brinquedos pelo chão do quarto das crianças quando avistei um pequeno urso de pelúcia escondido atrás da porta. Já não o via há bastante tempo.

Logo veio à minha mente as histórias que minha tia Giselia contava quando éramos pequenos, eu, meu irmão e meus primos.

Ela contava que em uma pequena cidade cercada por florestas densas, havia uma lenda que todos os moradores conheciam, mas poucos ousavam falar. Diziam que, nas noites mais escuras e silenciosas, uma menina aparecia nas portas das casas, à procura de seu brinquedo preferido. Seu nome era Filó.

Filó havia sido uma criança alegre e cheia de vida, com cabelos dourados e um sorriso que iluminava até os dias mais nublados. Ela adorava brincar com seu ursinho de pelúcia, um amigo inseparável que nunca a deixava sozinha. Porém, numa tarde fatídica, enquanto brincava sozinha no quintal, um acidente trágico a levou a perder a vida. Sem explicações evidentes.

Desde então, sua alma ficou presa entre o mundo dos vivos e o dos mortos.

Agora, em cada noite sem lua, Filó sai de sua prisão etérea e vagueia pelas ruas da cidade. A lenda diz que ela se aproxima das casas e bate suavemente nas portas. Se alguém atende, ela olha com seus olhos tristes e pergunta: “Você pode me dar meu brinquedo?” Se a pessoa se recusa ou ignora o pedido, Filó começa a cantar uma canção de ninar suave e melancólica. A melodia é tão doce que parece envolver quem a ouve em um abraço acolhedor.

Mas há um aviso: quem não dá atenção à menina não escapa de sua ira.

Dizem que aqueles que ignoram seu pedido são visitados por uma sombra escura durante a noite. A sombra se transforma em uma força brutal e implacável, espancando a pessoa até deixá-la sem vida. Os moradores contavam histórias de pessoas que ouviram a canção de ninar e riram dela, apenas para serem encontradas no dia seguinte em estado lamentável.

Os mais velhos na cidade sempre alertavam os jovens: “Nunca ignore a menina dos brinquedos.” Aqueles que perderam amigos ou familiares dizem que ela os visitava em seus sonhos, sempre com o mesmo pedido: “Me dá
meu ursinho.” Os relatos são aterrorizantes; muitos afirmam ter sentido sua presença fria ao acordar no meio da noite.

A lenda se espalhou como fogo em palha seca, e as pessoas passaram a contar histórias sobre Filó ao redor das fogueiras. Elas falavam sobre como era importante dar atenção à menina, não apenas por medo do que poderia acontecer, mas por compaixão por uma alma perdida.

Com o tempo, as pessoas começaram a deixar brinquedos na porta de suas casas nas noites sem lua. Era uma forma de apaziguar o espírito da menina e garantir que ela não se tornasse uma sombra aterrorizante em suas vidas. E assim, mesmo na escuridão da noite, os moradores encontravam conforto sabendo que estavam fazendo o possível para ajudar Filó a encontrar paz.

Mas cuidado: se você ouvir uma canção de ninar ecoando pela noite e sentir um arrepio na espinha, é melhor abrir sua porta — porque ela pode estar ali pedindo seu brinquedo preferido. E quem sabe? Talvez você possa fazer a diferença para essa alma perdida antes que seja tarde demais…

Peguei o pequeno urso e joguei no baú junto com os outros brinquedos ignorando as histórias de minha tia.

À noite não tinha lua no céu.

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