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A paz do poema (e contra a escuridão, um verso maduro)

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Poesia, fazei de mim instrumento de vossa paz. Onde houver escuridão, que minhas mãos levem o verso maduro, renascido na clara luz de todo dia que nos faz sentir o além. Dai-me a grandeza das coisas que não podemos ver, mas sentir, ter, aqui dentro, bem fundo. Revelai-me o que está por dentro de tudo e pouco podemos sorver, viver.

Como jardineiro da eternidade, sigo catando versos espalhados, estilhaços encontrados aqui e ali, procurando amigos que um dia acreditei perdidos, esquecidos mundo afora. Agora, estou a revê-los, reencontrá-los em minha casa que tem várias moradas. Meu Deus, como tudo é significativo, representativo. Nesse momento, enquanto me decanto em sílabas, ouço o cd que a bela e perdida amiga me destinou do interior de Minas, depois de me encontrar nas ondas da internet. O mundo é grande e cabe inteiro na tela do meu computador. E meu computador que processa tudo, não suporta sequer minhas dores menores, minhas angustias maiores. Sonhar é preciso, e acreditar é necessário. Afinal, o que o tempo nos deu além dos momentos? “Não os percamos agora”.

Cecília Meirelles, entre tantos momentos de genial divindade, revelou-nos que “já não tem mais lugar quem mora em tudo”. Sei que moro em mim e dentro dos amigos. Habito abismos, estou onde sempre estive e onde nunca estarei. Estou na curva do destino, à beira do caminho.

De fora, do mundo paralelo e real, o vento sopra na minha janela, querendo sequestrar-me o instante. E eu só ‘canto porque o instante existe’. E ‘sou alegre, sou triste; sou poeta’. Poeta da palavra viva, da voz que dobra e faz da esquina a curva da lua, da rua que acende em nós a noite e nos faz sonhar o impossível, o imprescindível, o imponderável. Hoje, apenas quero viver o improvável, colher manhãs madrugadas adentro, fazer minha casa na sombra do tempo, me fundir com o momento… É difícil viver assim? Não, é fácil, muito fácil, basta apenas se alimentar de infinito, fisgar o arco-íris no anzol das horas, vestir-se em simplicidade, polir a sensibilidade, fazer com que o tempo não tenha demora, tenha apenas um minuto para viver e se entregar, se encontrar.

Se você não acredita, nada posso fazer. Te dou apenas este depoimento ancorado em palavras, minha verdade colhida sobre os muros cobertos pelas heras nas camadas da atmosfera. Se você jogar a máscara fora, esquecer o ego, deixar a dúvida, o medo e o engano irem-se embora, libertar o pensamento aprisionado na palma de sua mão, talvez entenderá esse mundo aqui traduzido, esse universo submerso em tantos sóis e seus infinitos girassóis…

Eu, no entanto, vou um mundo novo desvendar, uma nova esquina encontrar, em um novo barco singrar a aurora em direção aos caminhos secretos dos grandes mistérios de Deus. Me exilar pela terra etérea, ser cada vez mais os pedaços que tanto em tudo estou. Onde, não sei… Sei apenas que vou, que tenho a nítida, clara e confortante certeza que eu também sou parte dele, do todo. Com a bênção de Deus!

Petrônio Souza Gonçalves, jornalista e escritor

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