José Escarlate
Junho de 1967 – Quando retornei a Brasília, já casado, um fato movimentava toda a cidade. Os comentários, numa cidade que não tinha esquinas, corriam de bar em bar, intensos.
Tiroteio no Congresso, onde eu havia estado momentos antes. Hora do almoço, os deputados Estácio Souto Maior, pai do piloto Nelson Piquet, e Nélson Carneiro discutiam asperamente em torno do comando da União Interparlamentar.
No calor do bate boca, Souto Maior chamou Nelson de negro e deu-lhe um bofetão. A turma do deixa disso chegou e pensou que tivesse apartado a briga. Engano. Nelson saiu dali e voltou, pouco depois, armado com um revolver. Bateu no ombro de Souto Maior e disse: “Você vai pagar aquele bofetão”.
E sacou um revolver 38, que comprara dias antes, atirando no desafeto. Atingido, Souto Maior caiu, mas conseguiu tomar-lhe a arma, atirando por cinco vezes em Nelson, que se abrigara atrás de uma pilastra. Tudo isso, em frente à agência do Banco do Brasil. Errou todos os tiros.
Na Câmara, foi aquele auê. Muita onda prá lá e prá cá, foi aberto o processo contra os dois. Nada parecido com a onda que hoje fazem quando há processo na Comissão de Ética, que creio, à época, não existia. Acreditem. Mais uma vez a coisa acabou em pizza. Com todos os sabores. Prá variar, os dois foram absolvidos.