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Petrolina e Juazeiro

A ponte, o Velho Chico e as duas capitais do Sertão

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Autor/Imagem:
Acssa Maria - Foto Reprodução do X

Dizem que o rio é bicho arredio, que corre sempre pra frente e não olha pra trás. Mas o São Francisco, ali entre Juazeiro e Petrolina, parece mais um velho sábio que aprendeu a morar entre dois mundos. E no meio desse encontro, quem reina, imponente e discreta, é a Ponte Presidente Dutra.

Feita de concreto, aço e saudade, a ponte liga mais do que margens — une destinos. Petrolina e Juazeiro, irmãs siamesas separadas apenas pela poesia líquida do Velho Chico, vivem uma simbiose que nenhuma fronteira estadual conseguiu cortar. O que o mapa dividiu, o povo juntou. E a ponte está ali para lembrar que, no sertão, o impossível se constrói — e vira passagem.

Quem cruza a ponte a pé, sente no rosto o vento que carrega cheiro de manga madura, de feira, de barulhinho de sanfona. É possível ouvir, mesmo sem querer, um verso de João Gilberto flutuando no ar, ou um eco de Gonzagão rindo baixinho no fim da tarde.

Às seis da manhã, é ela que vê os primeiros ônibus escolares cruzando sonolentos. Ao meio-dia, segura o peso dos caminhões carregados de melão, cebola, promessas. À noite, vira passarela para namorados que fingem olhar o rio, mas só têm olhos um para o outro.

Se fosse gente, a Ponte Presidente Dutra seria dessas senhoras sábias do interior, que não falam muito, mas sempre sabem o que está acontecendo. Ela viu de cima a chegada da irrigação, a expansão dos vinhedos, os artistas de rua, os romeiros, os forrozeiros, os políticos em campanha. Ela já ouviu juras de amor e xingamentos de motoristas atrasados. E guardou tudo em silêncio.

Juazeiro e Petrolina se chamam de “capitais do sertão” não por arrogância, mas porque aprenderam a resistir e florescer no semiárido. E a ponte, essa senhora de concreto, é testemunha de que o sertão também é encontro, afeto e caminho.

No fundo, a ponte não liga apenas duas cidades. Ela costura dois modos de ver o mundo. De um lado, o axé baiano; do outro, a poesia pernambucana. No meio, o São Francisco, sempre navegando entre lendas, peixes e versos.

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