Na boemia da noite
Entoo uma canção morna
Para que ela saia à rua
E abra-me a porta.
Então ouço uma voz serena
Interrogar-me através da porta trancada
_ Que queres de mim
A essa hora da madrugada?
_ Quero amá-la até o amanhecer
E, responde-me ela:
_ Vem, meu amor,
Que eu te abro a janela
Pulo o peitoril sem barulho
Adentrando ansioso em seu quarto
Sinto o esplendor de sua cálida alcova
E de lindas visões eu me farto.
Os seios nus
Bordados de bicos rosados
Arfam de amor e anseio,
E essa avidez me traduz
Que eles são dois corcéis indomados
Esperando o furor do rodeio.
Ba sua face vejo medo
E, ao mesmo tempo, fascínio
Como um alguém que não quer morrer
Mas sim ser o assassino.
Do seu ventre, escondido timidamente
Por detrás dos dourados pelos pubianos,
Brota a mais cristalina das águas,
Que rola por suas pernas vagarosamente
Como lágrimas que vão afogando
Em doces desejos as mágoas.
Suas mãos trêmulas
Abrem-se num abraço
E de repente
A flor está em seus braços.
Acaricio cada uma de suas pétalas
Cheiro todos os seus perfumes
Desbravo os seus caminhos sinuosos
Tendo por testemunha apenas o pálido lume.
*Saulo Braga, o Boca do Inferno do século XXI.