Arraial D´Ajuda já é belo e generoso pelo nome. Não imaginaria outro lugar que não esse, um arraial que nos ajuda a ver que a vida vai muito além daqui, e lá, depois do fim do morro, bem ao pé da ladeira, um mar infinito de azul nos espera, para nos levar além da paisagem… Vou com ele, enquanto encontro o arraial no povo que faz a vida do lugar.
Para o Arraial que cabe o mundo inteiro, gente de toda parte do planeta: o francês que trocou os cenários de Paris para tocar tambor e ser feliz; o italiano que se casou com a menina baiana para se casar consigo mesmo; o senhor do interior de Minas que trocou os aposentos pelo poente, quando o sol dourava as horas e fez brilhar a sua sorte.
Com seus muitos restaurantes abertos para rua, estendendo a mesa até os raios de sol, fico conversando com seus proprietários, ouvindo histórias de vida e de pessoas desprendidas que buscaram a si mesmas bem distantes dos outros. Encontraram um mundo novo e fizeram a vida a seu jeito.
Um dos primeiros a chegar por lá, quando Arraial era apenas uma rua cercada por casas de pescadores, o então jovem saído de São Paulo – na busca de uma vida que lhe desse alternativas de viver de seus próprios sonhos – ficou por ali admirando a paisagem, até que uma amiga lhe falou: – O senhor João Fogueteiro está vendendo um lote, lá tem um belo cajueiro… Por que você não o compra? Fernando, querendo ver o belo cajueiro, gostou do terreno. Senhor João gostou do fusca dele. Fizeram a troca. Um deu ao outro o que eles não tinham.
Com o passar dos anos, as coisas de Fernando foram crescendo, proporcionalmente com sua alegria de viver. Fez um camping, que se transformou em pousada, um restaurante e sempre cultivou o cajueiro, que segundo ele, está lá, na área interna da pousada, dividida em lindos e aconchegantes chalés, cercado por um tanto pés de erva doce.
Assim Arraial ajudou Fernando a encontrar o seu lugar que era guardado por um cajueiro e a fazer aquele pedacinho de terra um lugar mais agradável, elegante, saboroso e bonito para se viver. Hoje, sempre me lembro do cajueiro que mudou a vida do Fernando, que lhe ‘tomou’ um fusca e lhe deu um cantinho cheio de flores para cuidar e de histórias para contar.
Agora fico pensando onde está meu cajueiro, onde adormece meu sonho inteiro. Será na beira do mar ou de frente para uma cachoeira? Não sei ao certo. Certo estou que enquanto não o encontro, o vejo em todo lugar e vou cuidando de todas as flores e árvores que encontro pelo caminho, quando queria ser apenas um passarinho para não voar, mas para fazer meu ninho e cantar, feliz, a nova primavera.
Petrônio Souza Gonçalves, jornalista e escritor