Andrea Pavlovitsch
Descobri uma coisa, por estes dias. Eu sempre soube e todo mundo fica repetindo isso como um mantra, um clichê, sei lá, mas, de fato, eu tenho que admitir que a vida é um desafio. Os dias não são todos iguais. A vida não é uma linha reta e se manter em equilíbrio não significa ficar parado. Tudo muda o tempo todo, no mundo, diria o poeta. E algumas coisas voltam para um ponto central, ficam lá parecendo estagnadas, nos enganando a este respeito.
Nada, nunca, está parado. E ninguém está andando pra trás nunca. Mas essa é a impressão que sempre temos a nosso respeito. Olhar para si não é a tarefa mais fácil do mundo. Conheci uma moça que quase morreu porque estava como colesterol nas alturas, mas nunca tinha feito um exame. Um simples exame. Até se descobrir num exame de sangue é difícil.
E se, quando abrirmos o envelope, percebemos que não somos tão saudáveis, tão invioláveis e tão perfeitos quanto pensávamos? E se lá estiver a verdade, nua e crua, dizendo que somos humanos, feitos de carne e ossos, e que estamos sujeitos a todo tipo de intempéries? E que andamos comendo demais coisas que não podem ser comidas?
O tempo todo estamos sendo julgados, criticados, analisados. Eu, todas as vezes que vou a um médico novo, escuto sempre a mesma frase precisa emagrecer, hein. Como se eu não soubesse disso e já não me sentisse culpada o suficiente por estar aqui no mundo sendo uma coisa que as pessoas não querem ser. Tendo uma coisa que as pessoas não querem ter e, pior, sendo completamente responsável por isso. Sim, nós somos responsáveis por nós mesmos. E sim, precisamos fazer algumas coisas para manter certos padrões. Mas cá estou eu aqui de novo falando de padrões. Afinal de contas, quais os padrões que devemos seguir.
Descobri estes dias que eu procuro por modelos. Apesar de tudo, da idade, da maturidade e da minha experiência, me peguei me comparando com uma amiga. Uma comparação baixa, mesquinha, completa mente sem noção, mas que, no momento, pareceu fazer todo o sentido. Chorei até, porque, claro, perdi na comparação.
E no final fiquei me perguntando bem alto, quase gritando “Onde está o manual de sobrevivência no mundo?” Não achei, olha que pesquisei bastante. Não existe nenhum manual fora de nós e não, não estamos errados o tempo todo.
Estamos só tentando sofrer o menos possível. Tentando ser felizes, tentando acertar, tentando alcançar sonhos que às 11 da noite nos parecem impossíveis. Uma casa nova, um carro novo, um novo corpo, menos colesterol (ou triglicérides), um amor perfeito, um filho lindo e que fique um bebê pra sempre. Uma vida de teatro, de faz de conta, que nos engana contando uma história que não é nossa.
Aceitar que não somos boas o suficiente. Não somos boas para padrões que não são nossos. Não somos, talvez, o primeiro lugar no campeonato e, se formos, será só por um período. Não estamos numa corrida de obstáculos tentando não cair e quebrar a cara. Não estamos aqui para ser como todo mundo.
Se você é diferente, nem que seja um pouquinho (e aqui entra todo mundo que é diferente por algum motivo (religioso, sexual, emocional, psicológico, físico) você não pode se comparar. Porque o Universo já te mandou para ser único. Porque você já é um ser único no planeta, não veio pra completar um padrão, veio pra mostrar que é possível fazer diferente. E se você aceitou esse desafio a sua vida não vai ser fácil. A minha não é! Ela parece fácil, mas ela é uma complicação diária de sentimentos, de serotonina, de fome, de amor e da falta dele. De inveja, de cobiça, de caos, de faltas e sobras.
A vida é o que fazemos dela. Ela é o que nos liberta, o que nos admite como humanos, o que nos faz sermos únicos. E sim, pode ser que nunca, ninguém no mundo admita isso e te dê um troféu. Mas não estamos na vida pra ganhar medalhas e pendurá-las na parede, para depois aposentar e ir morar num rancho com elas empoeirando lá. Somo vivos, pessoas, para nos desafiarmos, desafiar o que nos incomoda no mundo e sim, incomodar muito. Não existe um bom e um mal. Existe o que somos e o que não somos! E só!