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Crédito à ciência

Abandonar máscara é varrer Covid pra debaixo do tapete

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

Veladamente atendendo pedido do capitão presidente, os governadores do Rio de Janeiro e do Distrito Federal, os puxa-sacos Cláudio Castro e Ibaneis Rocha, foram os primeiros a decretar o fim da pandemia. Por determinação de ambos, a população dessas duas localidades já não precisa usar a máscara facial em locais fechados ou abertos para se proteger do vírus da Covid-19 há pelo menos dez dias. É o chamado liberou geral, um verdadeiro bundalelê. Como dois cientistas das histórias em quadrinhos, os papas da sabedoria sanitária – nesse conceito se inclui o mito – se anteciparam a um provável decreto do desatento ou abstraído ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reduzindo a pandemia a uma reles endemia. O uso do adjetivo é autoaplicativo.

A desatenção (para dizer o mínimo) tem a ver com a norma vigente no planeta, segundo a qual somente a Organização Mundial de Saúde (OMS) decreta ou retira o status pandemia. Ou seja, querem ser o que jamais serão. Como se incorporassem os espíritos de Hipócrates e Alexander Fleming, suas excelências – hoje são mais 12 estados e seis capitais – ignoram a rapidez da vida, se agarram ao efêmero temporariamente denominado de poder e, muito antes da abertura das urnas, se imaginam longe da ilusão. Também esquecem que, bem menos do que há dois anos, as pessoas continuam morrendo de Covid. E aos montes. No entanto, aparentemente ungidos pela graça de Deus, mostram-se superiores às desconfianças da ciência e despreocupadamente alheios aos olhares de desespero da população que teima em se infectar com a tal da “gripezinha”.

É o indicativo mais cristalino de que o povo, também chamado eleitor, não passa de um detalhe, algo que beira a desnecessidade. O que realmente importa é atender aos anseios e aos encantos do poder. E não interessa que ele (o poder) seja passageiro. Eles não têm tempo de qualquer apego que não sejam seus próprios interesses. E a Covid? Foi varrida para baixo do tapete. Ocorre que os poderesos de hoje podem não ser os de amanhã. Por isso, deveriam atentar para um ditado espiritualista que diz que o apego ao supérfluo é a introdução à loucura. Poderiam pelo menos perceber que a vida harmoniosa e sadia é muito mais interessante do que qualquer mandato. Por essas razões, mais uma vez desrespeitarei ordens superiores e continuarei usando o acessório facial como forma segura de não encurtar a vida.

Em resposta ao negacionismo de alguns e à sabedoria e rapidez desses governadores, informo que estou devidamente vacinado e que, por acreditar na ciência, até hoje não procurei saber o que tinha dentro das seringas. O que sei é que não fui infectado, não virei jacaré, estou vivo e, portanto, jamais acreditarei em estultices de aventureiros travestidos de vendedores de ilusão. Tomei todas as vacinas recomendadas e, se houver necessidade, tomarei até a nonagésima dose. Na verdade, quem sou eu para questionar a sapiência ou duvidar da eficácia do receituário médico. Da mesma forma que não avaliei as seringas, não disponho de conhecimentos para discorrer sobre o que há dentro do Big Mac ou do cachorro quente da carrocinha da esquina.

Também não sei o que tem no Ibuprofeno ou em outros medicamentos. Sei apenas que eles curam minhas dores físicas. Pode ser um erro, mas desconheço a composição dos produtos que utilizo diariamente, entre eles o sabonete, shampoo, filtro solar e a pasta e dente. Meu pior defeito talvez seja não saber o efeito a longo prazo do uso do celular e do microondas. Será que a comida servida nos restaurantes do bairro é feita por pessoas de mãos limpas (não no sentido figurado)? Não sei. Aliás, tem um monte de coisas que não sei, nunca soube e jamais saberei. O que sei é que, após atender a ciência e a recomendação dos médicos, estou vivo. Usei – e uso – máscara e não morri asfixiado, tampouco observei aumento algum nas orelhas.

Eita assunto bão de discorrer. Gostaria de lembrar às excelências palacianas que hoje consigo abraçar as pessoas sem o medo de dois anos atrás. Confiei na ciência e, quando criança ou adulto, fui vacinado contra paralisia infantil, tuberculose, difteria, sarampo, catapora, hepatite, todos os tipos de gripe, entre outras doenças viróticas. Fiz até cirurgia de fimose. Por tudo isso, acreditando que não morrerei de Covid, por que teria de acreditar em alguns governadores e em um presidente que ainda não conseguiram escrever um único capítulo do livro administrativo que prometeram ao serem eleitos? Do livro da minha vida eu sou o autor. Aliás, comprei mais um estoque de máscaras. Ponto final.

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