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Nem tão verde

Abrir portas da reindustrialização dá dor de cabeça em Alckmin

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Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile/Via O Ponto - Foto Rafa Neddermeyer/ABr

O tema da reindustrialização é tão importante para determinar o futuro do país que Lula atribuiu a tarefa a Geraldo Alckmin. O ‘novo arcabouço industrial’, como tem sido chamado pelo presidente e seu vice, tem três eixos: rejuvenescimento da indústria, inserção nas cadeias globais de suprimento e descarbonização.

Apesar da promessa de dinheiro para isso, não são poucos os problemas que Alckmin terá de enfrentar. Por exemplo, o que fazer com os setores que empregam muita mão de obra, mas ficaram defasados tecnologicamente para competir internacionalmente, como têxtil, móveis, calçados?

Os três segmentos somam mais de 1,5 milhões de empregos com baixa formação dos trabalhadores. Como capacitar essa massa para que migrem para setores mais avançados? Outro desafio é o lobby do ‘centrão industrial’, aquele ramo conservador e atrasado, mas guloso por incentivos, como a indústria automotiva, que recebe muito mas entrega pouco apesar do apoio de empresários e sindicalistas.

Já entre os ramos que devem ser beneficiados pela ação de Alckmin e do BNDES estão a indústria militar, a de saúde e o agronegócio. Mas com uma condição: a meta é saltar direto para uma economia verde e sustentável, sintonizados com o discurso ambiental e a política internacional do governo.

Na semana que se inicia o governo deve anunciar um inédito e pioneiro plano de transição ecológica. Os primeiros passos devem ser a regulação do mercado de carbono e a fiscalização sobre os seis setores mais poluentes: siderurgia, química, alumínio, cimento, plásticos e papel. Além disso, deve aumentar a imposição de critérios ambientais para a liberação de crédito agrícola.

Porém, o Plano corre o risco de ficar nas boas intenções ou apenas na propaganda. Primeiro, porque o próprio governo não faz a sua parte. O Plano da Petrobrás para 2024-2028, por exemplo, prevê 85% dos investimentos para energias fósseis e apenas 15% para a descarbonização. Segundo, porque o mercado de carbono e os títulos verdes, papéis emitidos para financiar projetos com benefícios ambientais, são uma saída bastante questionável para a crise ambiental, jogando água no moinho do mercado financeiro, e com resultados duvidosos.

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