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Acabou água da chuva, mas as barragens vão garantir as torneiras

As cortinas d’água que cobrem as paredes das Barragens do Torto, de Santa Maria e do Descoberto são a melhor garantia de que a estiagem iminente não vai comprometer o abastecimento dos brasilienses. Os três reservatórios mais importantes da cidade, que juntos respondem por 87% da água distribuída nas torneiras do Distrito Federal, só devem ter novas recargas ao fim da estação seca, quando voltarão a ocorrer chuvas significativas — o que só deve ocorrer em setembro.

Neste ano, o reservatório do Torto chegou a atingir 25 centímetros acima da capacidade máxima de armazenamento; em Santa Maria, foram 12, e no Descoberto, 15. Na quinta-feira (21), depois de uma semana sem chuvas em Brasília, os três estavam, respectivamente, com 12, 4 e 6 centímetros além do volume total, ou seja, vertendo ainda.

A situação de Brasília é bem mais confortável que a de outras unidades da Federação. Com exceção de poucos estados, como aqueles que captam a água diretamente dos rios — a exemplo do Pará e do Espírito Santo — boa parte dos reservatórios do País chegaram ao fim da estação chuvosa com níveis preocupantes. O sistema Cantareira, por exemplo, principal fonte da capital paulista, estava com 19,7% da capacidade na quinta-feira (21).

Na mesma data, o Paraopeba, sistema que abastece Belo Horizonte (MG), tinha 38,6% do volume preenchido. Na Paraíba, por mais que o reservatório que abastece a capital, João Pessoa, esteja com 95,7% do volume total, apenas 48 das 124 barragens monitoradas no estado têm capacidade armazenada superior a 20% do volume total.

“A gente não pode achar que está tudo bem”, alerta Sérgio Ribeiro, subsecretário de Água e Clima da Secretaria do Meio Ambiente, quanto ao nível máximo dos reservatórios de Brasília. Ele ressalta que os sinais de mudança nos regimes hidrológicos são evidentes: “Temos mais eventos extremos, com chuvas concentradas, fortes e veranicos severos como o de janeiro.” O fato de a Barragem do Torto ainda estar vertendo a poucos dias do fim de maio é um sinal da mudança nos ciclos das chuvas. Isso porque, habitualmente, a cortina d’água que simboliza a ultrapassagem do limite máximo de armazenamento se desfaz ainda em abril.

Para aprofundar o conhecimento sobre a questão climática em Brasília, o governo conta com a ajuda do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais para regionalizar modelos climáticos globais, ou seja, adaptá-los à realidade do Distrito Federal. “Como vai ser o nosso regime de chuvas no futuro? Como as mudanças climáticas vão chegar aqui? Precisamos entender como isso acontecerá no nosso território e trabalhar para evitar situações dramáticas como a de São Paulo”, explica Ribeiro.

O subsecretário ressalta a importância de valorizar os produtores rurais, em grande parte responsáveis pela proteção das nascentes e matas ciliares. Para garantir a sustentabilidade da produção agropecuária, a Secretaria do Meio Ambiente vai investir R$ 1,3 milhão do Fundo Único de Meio Ambiente do Distrito Federal na implementação do Cadastro Ambiental Rural, primeira etapa do novo Código Florestal (Lei nº 12.651, de 2012), na região do Descoberto.

Ribeiro lembra ainda que a desvalorização do trabalho agropecuário, somada à pressão pelo aumento da demanda habitacional, acaba levando ao parcelamento de propriedades e à grilagem. “Se isso não for freado — e o governo tem tomado medidas para isso —, o solo fica cada vez mais impermeabilizado, a água deixa de se infiltrar, e as nascentes podem secar.”

Apesar da aparente fartura, o uso racional dos recursos hídricos é importante e não deve ser abandonado, alerta a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb). Ao mesmo tempo em que cobra economia dos consumidores, a empresa com o menor índice de perdas e vazamentos do Brasil (27,3%) investe na proteção de mananciais e na troca de 350 mil hidrômetros, até 2016, o que dará maior precisão e eficiência à medição do consumo.

A ampliação dos sistemas de abastecimento é outro ponto que tem recebido prioridade da companhia. Até 2018, deve começar a retirada de água do Lago Paranoá, que atenderá a 600 mil pessoas. Também estão previstas para os próximos anos as inaugurações dos sistemas do Bananal e de Corumbá IV, em parceria com o governo de Goiás.

Étore Medeiros, Agência Brasília

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